terça-feira, 10 de maio de 2011

TER SEMPRE RAZÃO

Arthur Schopenhauer (1788/1860)


“Daí vem que se forma em nós a máxima, segundo a qual, mesmo quando o argumento do adversário parece exacto e conclusivo, nós nem por isso devemos deixar de o atacar… desta maneira, socorremos alternativamente a fraqueza da nossa inteligência e a perversidade da nossa vontade.”

“Avoir toujours raison” (Schopenhauer)



Estamos sempre a assistir ao espectáculo da arte de ter sempre razão. E quando não se pode atacar o argumento do adversário, recorre-se ao ataque pessoal, acusando-o, por exemplo, de mentir, ou passando-lhe um atestado de esquizofrenia, por viver fora da realidade. Bem vistas as coisas, se a loucura não fosse, aqui, uma pura figura de retórica, o debate nem poderia prosseguir.

É cada vez mais evidente que o modelo de confronto televisivo exige dos políticos todas as qualidades do actor e nenhumas do governante, a não ser, precisamente, as requeridas pelo espectáculo parlamentar.

É absurdo, todavia, lamentarmos a falta de “verdade” dos actores. Toda a gente percebe que é essa a lei que rege o espectáculo. A ideia de que um político se pode render na televisão a um argumento superior, ou simplesmente à invocação dos factos, é prepóstera. Ele não está ali para se confessar, mas para ganhar ao seu oponente na esgrima verbal.

Não sendo o conhecimento do homem, que é o actor, o objectivo das entrevistas, o potencial eleitor não deixa de interpretar o que vê e de exercer a sua intuição. Para lá da performance, melhor ou pior, há o que o corpo (e sobretudo a voz) não deixa de trair.

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