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"A objectividade do presente consiste no facto de ser
válido para toda a gente."
(Edmund Husserl)
A propósito de Sócrates Menor, o mais interessante é que
ele tenha conseguido tornar-se para a maior parte da classe política o
verdadeiro problema do país.
É demasiada honra. Mas mostra uma coisa: é que talvez ele
seja de facto perigoso (é-o, com certeza, para os que lhe disputam o lugar). Um
tal levantar de escudos tem, então, de justificar-se com a natureza diabólica do seu
poder. Foi por isso que se tornou comum reconhecer que Sócrates até pode ser o
melhor na sua arte (apesar de ter perdido o sangue frio na última entrevista), mas para
fazer todo o mal que pode. Não querem reconhecer que essa arte é a mesma para
que todos os outros têm que ter unhas, neste tipo de política à americana,
dominada pelos média e a "medipulação" do eleitorado. Veja-se o que é que resulta da análise do rei dos nossos comentadores, o professor Marcelo: está em causa o campeonato televisivo. Quem ganhou e quem perdeu. As ideias e a real competência, para lá da retórica mediática, nunca estão em causa.
Por isso se tornou usual o único argumento que faz
Sócrates pestanejar: o argumento "ad hominem", porque explora um
temperamento que se julga conhecer. Procura-se perturbar o homem em vez de lhe
responder.
Quando se diz, como Portas, que o candidato vive fora da
realidade, só resta ao visado devolver o argumento: "Você é que não vive
neste mundo..." Para que o debate prossiga é preciso que a retórica do
outro seja anulada ou exposta como tal, porque não se argumenta com um louco.
Ou quando tão impunemente (mas, sem dúvida, servindo-se duma imagem previamente
fabricada) se acusa o outro de mentir, como se isso os dispensasse de fazer a
respectiva prova. Passos Coelho usou da mesma táctica que, inexplicavelmente, o
"especialista" se tem privado de usar: acusou-o a certa altura de usar
um truque, isto é, de usar a retórica para os seus fins, como se não fossem
óbvios os seus próprios truques.
Neste último debate, Sócrates revelou alguns
embaraços de principiante. Mas não é razão para não se continuar a falar numa
vantagem técnica (para o mal, insista-se, que explicaria as sondagens).
Tal como na fábula do escorpião e da rã, está na natureza
do escorpião levar-nos todos ao fundo.
Com o que confessam que ainda vivem no passado e que não
estão preparados para acompanhar o maquiavelismo mediático.
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