segunda-feira, 23 de maio de 2011

O ESCORPIÃO

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"A objectividade do presente consiste no facto de ser válido para toda a gente."
(Edmund Husserl)


A propósito de Sócrates Menor, o mais interessante é que ele tenha conseguido tornar-se para a maior parte da classe política o verdadeiro problema do país.

É demasiada honra. Mas mostra uma coisa: é que talvez ele seja de facto perigoso (é-o, com certeza, para os que lhe disputam o lugar). Um tal levantar de escudos tem, então, de justificar-se com a natureza diabólica do seu poder. Foi por isso que se tornou comum reconhecer que Sócrates até pode ser o melhor na sua arte (apesar de ter perdido o sangue frio na última entrevista), mas para fazer todo o mal que pode. Não querem reconhecer que essa arte é a mesma para que todos os outros têm que ter unhas, neste tipo de política à americana, dominada pelos média e a "medipulação" do eleitorado. Veja-se o que é que resulta da análise do rei dos nossos comentadores, o professor Marcelo: está em causa o campeonato televisivo. Quem ganhou e quem perdeu. As ideias e a real competência, para lá da retórica mediática, nunca estão em causa.

Por isso se tornou usual o único argumento que faz Sócrates pestanejar: o argumento "ad hominem", porque explora um temperamento que se julga conhecer. Procura-se perturbar o homem em vez de lhe responder.

Quando se diz, como Portas, que o candidato vive fora da realidade, só resta ao visado devolver o argumento: "Você é que não vive neste mundo..." Para que o debate prossiga é preciso que a retórica do outro seja anulada ou exposta como tal, porque não se argumenta com um louco. Ou quando tão impunemente (mas, sem dúvida, servindo-se duma imagem previamente fabricada) se acusa o outro de mentir, como se isso os dispensasse de fazer a respectiva prova. Passos Coelho usou da mesma táctica que, inexplicavelmente, o "especialista" se tem privado de usar: acusou-o a certa altura de usar um truque, isto é, de usar a retórica para os seus fins, como se não fossem óbvios os seus próprios truques.

Neste último debate, Sócrates revelou alguns embaraços de principiante. Mas não é razão para não se continuar a falar numa vantagem técnica (para o mal, insista-se, que explicaria as sondagens).

Tal como na fábula do escorpião e da rã, está na natureza do escorpião levar-nos todos ao fundo.

Com o que confessam que ainda vivem no passado e que não estão preparados para acompanhar  o  maquiavelismo mediático.

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