domingo, 1 de maio de 2011

"A ENTREVISTA DOS PAVÕES"



Argumentum ad Hominem (abusivo e circunstancial): a falácia de atacar o carácter ou as circunstâncias de um indivíduo que avança uma afirmação ou um argumento, em vez de tentar rebater a verdade da afirmação ou a inconsistência do argumento. Muitas vezes o argumento é simplesmente caracterizado como um ataque pessoal.” 

(http://philosophy.lander.edu)



Por detrás da diatribe e da argumentação “ad hominem” que JPP, no Público de ontem, pretende camuflar com uma prolepse reforçada (“poupem-me o simplismo de que isto é fazer campanha ad hominem”), dir-se-ia que existe uma inconfessável admiração (não foi o articulista atraído pela biografia de outro “monstro” da nossa política?) por este vampiro do “palco mediático” que mantém hipnotizada metade do país e que, tendo alguns julgado que estaria combalido pelos últimos insucessos, quando os valorosos caça-vampiros tinham pensado já ter espetado a estaca libertadora, ressurge com os caninos ensanguentados para continuar a fazer ao país todo o mal de que é capaz.

Ele tem a força da convicção dos grandes ludibriadores, que vem da completa incapacidade de distinguir entre a verdade e a mentira, e de exercer essa arte de uma forma tão consumada que mais do que convencer os outros, corrompe a vontade de lhe resistir.” (ibidem) Depois desta caracterização, JPP acrescenta que “o homem levou tudo atrás para não afectar a imagem messiânica que ele tem de si próprio.” Com o que toda a história deveria ser revista, porque os “grandes homens” começam  por acreditar em si próprios.

Claro que os defeitos de Sócrates apontados no texto não podem explicar a violência da metáfora transilvânica nem o encarniçamento demonstrado por este comentador político. Terão sido megalómanos os projectos de Duarte Pacheco? O do Centro Cultural de Belém ou a aposta nas auto-estradas de Cavaco Silva? JPP acredita demasiado nele próprio para não jogar todo o seu poder retórico e mediático contra um adversário político que, na sua opinião, bate toda a concorrência neste jogo: “Sócrates é um consumado e eficaz actor mediático, logo capaz de manipular vontades (…)” Não levantemos a questão do juízo implícito sobre os “manipulados”, porque JPP vê aqui um “problema estrutural da democracia”. E eu só posso concordar que a demagogia, que é o vício do regime, alcançou na nossa sociedade uma dimensão perigosa quando o poder da retórica se alia à televisão e aos meios de comunicação de massa.

Sócrates adaptou-se tão bem à política-espectáculo que “manipula” melhor do que todos os outros. Longe estão os “animais políticos”, como Mário Soares, que ocupam o meio televisivo com intuição e naturalidade. Sócrates é de outra espécie: é um profissional competente que “dá cartas” sempre que vai à televisão. Se ele é um Drácula prestigitador, vem direitinho das incubadoras do regime, como os outros.

Parece que é “um homem muito perigoso para Portugal”, mas Nixon era muito mais perigoso do que seu célebre oponente e a televisão derrotou-o a ele.

Enfim, há-de haver um motivo para a “máscara” deste primeiro-ministro, que é feita de energia e de convicção (messiânica?), desperte tanta controvérsia. Eu acho que é por ele ir contra o pêlo dos nossos “brandos costumes”. JPP acaba por lhe fazer um grande elogio ao retratar o primeiro-ministro como uma espécie de Maquiavel:” Há fragilidades, muitas fragilidades na personagem. Mas só se descobrem quando se percebe o que fez reviver de novo e isso foi o facto de ter sido ele mesmo a "romper", ele mesmo a "arriscar", ele mesmo a jogar tudo por tudo. Ele não andou a falar de "rupturas", mas "rompeu", precipitou a queda do seu Governo, provocou eleições e arrisca-se a tudo.”

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