“Argumentum ad
Hominem (abusivo
e circunstancial): a falácia de atacar o carácter ou as circunstâncias de um
indivíduo que avança uma afirmação ou um argumento, em vez de tentar rebater a
verdade da afirmação ou a inconsistência do argumento. Muitas vezes o argumento
é simplesmente caracterizado como um ataque pessoal.”
(http://philosophy.lander.edu)
Por detrás da
diatribe e da argumentação “ad
hominem” que JPP, no Público de ontem, pretende camuflar
com uma prolepse reforçada (“poupem-me o
simplismo de que isto é fazer campanha ad
hominem”), dir-se-ia que existe uma inconfessável
admiração (não foi o articulista atraído pela biografia de outro “monstro” da
nossa política?) por este vampiro do “palco mediático” que mantém hipnotizada
metade do país e que, tendo alguns julgado que estaria combalido pelos últimos
insucessos, quando os valorosos caça-vampiros tinham pensado já ter espetado a
estaca libertadora, ressurge com os caninos ensanguentados para continuar a
fazer ao país todo o mal de que é capaz.
“Ele tem a força da convicção dos grandes ludibriadores, que vem da
completa incapacidade de distinguir entre a verdade e a mentira, e de exercer
essa arte de uma forma tão consumada que mais do que convencer os outros,
corrompe a vontade de lhe resistir.” (ibidem) Depois desta caracterização,
JPP acrescenta que “o homem levou tudo
atrás para não afectar a imagem messiânica que ele tem de si próprio.” Com
o que toda a história deveria ser revista, porque os “grandes homens” começam por acreditar em si próprios.
Claro que os defeitos
de Sócrates apontados no texto não podem explicar a violência da metáfora
transilvânica nem o encarniçamento demonstrado por este comentador político. Terão
sido megalómanos os projectos de Duarte Pacheco? O do Centro Cultural de Belém
ou a aposta nas auto-estradas de Cavaco Silva? JPP acredita demasiado nele
próprio para não jogar todo o seu poder retórico e mediático contra um
adversário político que, na sua opinião, bate toda a concorrência neste jogo: “Sócrates é um consumado e eficaz actor
mediático, logo capaz de manipular vontades (…)” Não levantemos a questão
do juízo implícito sobre os “manipulados”, porque JPP vê aqui um “problema estrutural da democracia”. E
eu só posso concordar que a demagogia, que é o vício do regime, alcançou na
nossa sociedade uma dimensão perigosa quando o poder da retórica se alia à
televisão e aos meios de comunicação de massa.
Sócrates adaptou-se
tão bem à política-espectáculo que “manipula” melhor do que todos os outros.
Longe estão os “animais políticos”, como Mário Soares, que ocupam o meio
televisivo com intuição e naturalidade. Sócrates é de outra espécie: é um
profissional competente que “dá cartas” sempre que vai à televisão. Se ele é um
Drácula prestigitador, vem direitinho das incubadoras do regime, como os
outros.
Parece que é “um homem muito perigoso para Portugal”,
mas Nixon era muito mais perigoso do que seu célebre oponente e a televisão
derrotou-o a ele.
Enfim, há-de haver um
motivo para a “máscara” deste primeiro-ministro, que é feita de energia e de convicção
(messiânica?), desperte tanta controvérsia. Eu acho que é por ele ir contra o
pêlo dos nossos “brandos costumes”. JPP acaba por lhe fazer um grande elogio ao
retratar o primeiro-ministro como uma espécie de Maquiavel:” Há
fragilidades, muitas fragilidades na personagem. Mas só se descobrem quando se
percebe o que fez reviver de novo e isso foi o facto de ter sido ele mesmo a
"romper", ele mesmo a "arriscar", ele mesmo a jogar tudo
por tudo. Ele não andou a falar de "rupturas", mas
"rompeu", precipitou a queda do seu Governo, provocou eleições e
arrisca-se a tudo.”
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