quinta-feira, 19 de maio de 2011

A BORRACHA

Polímnia, deusa do Canto e da Retórica


“Ao invés da argumentação, em que a relação à questão é explícita como no tribunal, em retórica pelo contrário ela permanece implícita para melhor passar, como na publicidade, o que é tomado por resposta. O funcionamento retórico stricto sensu começa aí onde não se menciona a questão a fim de apagar o problemático, o que atenua a eventual problematicidade do discurso e reforça o carácter afirmativo e indiscutível do que se diz.”

“Histoire de la rhétorique” (Michel Meyer)



A teoria da manipulação pela arte retórica já vem de Platão que acusava disso os sofistas. É verdade que estes se vangloriavam de poderem provar o que quisessem.

O problema é que todos usamos os artifícios da retórica, em maior ou menor grau, para os fins mais comezinhos que necessitem do acordo dos outros (ou de alguns contra outros). Nada mudava se os interlocutores pudessem denunciar a “manipulação” da linguagem com vista a um objectivo que, no fundo, seria consensual.

Mas imaginemos que dois políticos rivais (aqui, evidentemente não é o acordo que se deseja com o adversário, mas a diferença, e quanto mais marcada, melhor) eram, simultaneamente, dois mestres de retórica e que a cada “jogada” de um, o outro a expusesse, com o  nome “técnico”, ainda por cima, em latim ou grego. As ideias ficariam, envergonhadamente, fora de cena, tornando-se o pretenso debate num espectáculo de competências sobre o acessório ( o que, de qualquer modo, são os debates televisivos ).

Como a ideia duma linguagem “natural” é praticamente utópica, não nos devemos admirar que os melhores retóricos, ou seja os melhores no exercício de “apagar o problemático”, sejam por isso os melhores actores.

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