quarta-feira, 11 de maio de 2011

O PROFESSOR ARMADO

"La journée de la jupe" (2008, Jean-Paul Lilienfeld)



Sonia Bergerac (uma Adjani irreconhecível) é professora,  numa escola secundária problemática, onde as tensões étnicas e culturais completamente desacreditam a metodologia oficial.

No decurso dum comentário teatralizado sobre o “Bourgeois Gentilhomme”, que é visivelmente intragável para a jovem e enervada tribo, a violência explode e Sonia descobre uma pistola no saco dum dos alunos. A partir daí, a professora consegue exercer um controle eficaz e levar até ao fim a sua aula sobre Molière.

Entretanto, a polícia que foi chamada pelo reitor cedo se apercebe que em vez do sequestro da professora pelos alunos (realidade não nomeada e fantasma da escola moderna) é o contrário que se passa.

Sonia reivindica  um dia nacional da saia, que só se compreende naquele contexto de sexismo militante de origem religiosa. A ministra da Educação que acompanha, na escola, as negociações, pensa, pelo contrário, que o direito de usar calças foi conseguido pelas mulheres ao cabo de uma longa luta. A polícia convoca os pais de Sonia e então ficamos a saber que ela própria é uma “integrada”, uma razão de sobra para insistir em Molière. O pai convence-a a entregar a arma, mas um aluno, vítima natural do bullying não perde a oportunidade para “tomar o poder”, apoderando-se da pistola e desfechando um tiro num dos seus abusadores.

Os polícias, disfarçados de jornalistas, entram na sala e um deles, com uma arma escondida na câmera, abate a professora aterrorizada só porque tinha a arma na mão.

Com motivação ou sem ela, não se pode ensinar o quer que seja sem disciplina. A disciplina está para o ensino, como a segurança está para a liberdade e a política. Muitas vezes, a disciplina é a única coisa que se aprende, e não é pouco.

A imagem dum professor armado para ensinar é de tal modo provocante que admira que um filme destes não tivesse sequelas nem desse lugar ao debate que se impõe.

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