Se um homem só no
final da sua vida pode dizer que foi feliz, como queria Sólon, a ideia da
coroação é como o juízo definitivo sobre o percurso terreno, não importando os
declives, nem as “descidas aos Infernos”, os momentos de dúvida ou de angústia,
tudo, na conclusão, se submete à teia do sentido. A história está escrita na
forma em que deve ser contada, e essa história é edificante.
Numa aldeia da província
de Ourense, na Galiza, Allariz, há um tesouro guardado no convento de Santa
Clara (dizem que tem o maior claustro de Espanha): é a “Virgen Abrideira”, uma
estatueta de marfim que abre e revela sete cenas representando os gozos de
Maria no Paraíso: Anunciação, Nascimento de Jesus, Ressurreição, Ascensão e Coroação.
Como acontece em
todas as orações fúnebres, é a história luminosa a única a que se faz
referência. Tudo o que a tornaria verdadeiramente humana é piedosamente
silenciado, porque a condição de mortal
já não é. Os gozos do Paraíso não são prometidos a quem morre, mas aos “deuses”
em que nos tornamos.
1 comentários:
De facto, até parece que Humanidade e Paraíso não se cruzam.
Felizmente que há vidas humanas que no próprio Inferno nos convidam ao Paraíso, ali mesmo, sem mais demoras. Estou a pensar em Etty Hillesum.
A iconografia religiosa contém esse estranho paradoxo humano, eu acho.
Maria Helena
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