“Euelpides
– Ele (*) não é um cidadão e gostaria de o ser a qualquer custo. Nós, pelo
contrário, nascidos duma tribo e duma família honradas e vivendo no meio dos
nossos companheiros-cidadãos, fugimos do nosso país para tão longe quanto
pudemos. Não é que o odiemos: nós reconhecemos que é grande e rico e,
igualmente, que toda a gente tem o direito de se arruinar pagando impostos; mas
os grilos só cantam entre as figueiras por um ou dois meses, enquanto que os
Atenienses levam toda a sua vida entoando o louvor das sentenças dos seus
tribunais. Foi por isso que partimos com um cesto, uma panela e alguns galhos
de mirto e viemos procurar uma terra tranquila onde possamos ficar.”
“As Aves”
(Aristófanes)
Os dois exilados por
vontade própria servem-se de um gaio e de um corvo (como se fossem um moderno
GPS) para encontrar Tereus, “o pássaro
que não nasceu de nenhum” para os ajudar a criar uma nova cidade (daí os
acessórios sacrificiais).
A proverbial
tagarelice dos Atenienses levou-os àquela aventura. A paixão pelos debates do
tribunal revela-nos a razão argumentativa na sua infância. A retórica e a
dialéctica começaram, sem dúvida, por ser um jogo social e a descoberta dum novo
poder.
Homens como Euelpides
e Pisthetaerus, em vez disso, preferem o sossego. Queixam-se dos impostos e duma
opinião pública demasiado volátil e importuna que os obriga, permanentemente a
fazer escolhas. Ter que ter uma opinião é uma outra espécie de imposto. Quanto
mais fácil não é, como hoje, ter os comentadores da televisão, em vez de nos
envolvermos em discussões…
Até chamamos “ruído”
à discussão, para que a opinião nos chegue canalizada e à prova da sofística.
(*) Refere-se ao dramaturgo Sacas (ou Acestor), um não-grego.
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