sexta-feira, 20 de maio de 2011

OS ALICERCES DO CAPITÓLIO

O Capitólio romano (Gravura de Étienne Dupérac)


“Que fizeram os Romanos para fundar o seu Capitólio e dotá-lo de eternidade? Puseram nos seus alicerces uma cabeça sangrenta, sem dúvida a cabeça de um rei.”

(Michelet)



Freud, entre outros, está de acordo com a tese de que todas as civilizações começaram por um crime. Mas a Revolução Francesa está demasiado próxima de nós e por de mais documentada para ser um bom exemplo. É verdade que também decapitaram um rei, mas esse acto sangrento, embora enorme e tornado símbolo duma ruptura definitiva, é uma pequena parte do que se esconde nos “alicerces do Capitólio”, para falar como o famoso historiador.

Nós, modernos, temos um poder sobre o passado que não tem comparação com o que os Romanos tinham. Haverá verdadeiras lendas ainda, ou elas resumem-se ao fenómeno mediático das chamadas “lendas vivas”, tão longe da lenda, como as estrelas do cinema o estão das que brilham sobre as nossas cabeças?

É caso para dizer que o crime, como fundação, já não compensa porque a ciência o impedirá sempre de converter-se em lenda. A segunda Guerra Mundial, por exemplo, não será um mito enquanto a memória for o que é (isto é, for cada vez mais objectiva).

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