O Capitólio romano (Gravura de Étienne Dupérac) |
“Que
fizeram os Romanos para fundar o seu Capitólio e dotá-lo de eternidade? Puseram
nos seus alicerces uma cabeça sangrenta, sem dúvida a cabeça de um rei.”
(Michelet)
Freud, entre outros,
está de acordo com a tese de que todas as civilizações começaram por um crime. Mas
a Revolução Francesa está demasiado próxima de nós e por de mais documentada
para ser um bom exemplo. É verdade que também decapitaram um rei, mas esse acto
sangrento, embora enorme e tornado símbolo duma ruptura definitiva, é uma
pequena parte do que se esconde nos “alicerces do Capitólio”, para falar como o
famoso historiador.
Nós, modernos, temos
um poder sobre o passado que não tem comparação com o que os Romanos tinham.
Haverá verdadeiras lendas ainda, ou elas resumem-se ao fenómeno mediático das
chamadas “lendas vivas”, tão longe da lenda, como as estrelas do cinema o estão
das que brilham sobre as nossas cabeças?
É caso para dizer que
o crime, como fundação, já não compensa porque a ciência o impedirá sempre de
converter-se em lenda. A segunda Guerra Mundial, por exemplo, não será um mito
enquanto a memória for o que é (isto é, for cada vez mais objectiva).
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