Na Galleria Nazionale
delle Marche, em Urbino, encontra-se a célebre tela de Piero della Francesca, “A
Flagelação”, cujo significado se presta ainda hoje a múltiplas interpretações.
Do lado esquerdo, é
representada, numa loggia,
a cena que dá o nome ao quadro, em que além de Cristo e dos flageladores,
vemos, provavelmente, Pilatos, sentado, e Herodes, de costas. Do lado direito,
um jovem (Oddantonio da Montefeltro?) e, talvez, dois conselheiros que o
avisaram mal, pois a sublevação popular que causaram provocou o assassinato dos
três, em 1444.
Uma citação da
Bíblia: convenerunt
in unum (puseram-se de acordo – "Os governantes da terra",
"contra o Senhor e o seu Ungido") serve de legenda às duas cenas.
A grande inovação do
pintor toscano, ao nível da composição (era costume representar a cena da loggia
e outra cena ao lado) está em trazer para o primeiro plano a cena política com
o Montefeltro e os homens mais velhos. Isso torna a flagelação em mais uma
legenda do quadro. A partir daí, a citação bíblica só vem precisar que o poder
romano e o dos hebreus se uniram para praticar o crime dos crimes.
A cena da direita
deveria, assim, ser lida como uma outra aliança funesta. E não há dúvida que a
religião se encontra, aqui, subordinada à política.
O quadro de Piero della Francesca foi, por isso, bem escolhido pelos editores para a capa do
livro de Michel Meyer, “Histoire de la rhétorique”. O símbolo religioso passou, plenamente, a fazer parte dos recursos daquela arte.
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