segunda-feira, 9 de maio de 2011

CONVENERUNT IN UNUM



Na Galleria Nazionale delle Marche, em Urbino, encontra-se a célebre tela de Piero della Francesca, “A Flagelação”, cujo significado se presta ainda hoje a múltiplas interpretações.

Do lado esquerdo, é representada, numa loggia, a cena que dá o nome ao quadro, em que além de Cristo e dos flageladores, vemos, provavelmente, Pilatos, sentado, e Herodes, de costas. Do lado direito, um jovem (Oddantonio da Montefeltro?) e, talvez, dois conselheiros que o avisaram mal, pois a sublevação popular que causaram provocou o assassinato dos três, em 1444.

Uma citação da Bíblia: convenerunt in unum (puseram-se de acordo – "Os governantes da terra", "contra o Senhor e o seu Ungido") serve de legenda às duas cenas.

A grande inovação do pintor toscano, ao nível da composição (era costume representar a cena da loggia e outra cena ao lado) está em trazer para o primeiro plano a cena política com o Montefeltro e os homens mais velhos. Isso torna a flagelação em mais uma legenda do quadro. A partir daí, a citação bíblica só vem precisar que o poder romano e o dos hebreus se uniram para praticar o crime dos crimes.

A cena da direita deveria, assim, ser lida como uma outra aliança funesta. E não há dúvida que a religião se encontra, aqui, subordinada à política.

O quadro de Piero della Francesca foi, por isso, bem escolhido pelos editores para a capa do livro de Michel Meyer, “Histoire de la rhétorique”. O símbolo religioso passou, plenamente, a fazer parte dos recursos daquela arte.

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