sábado, 14 de maio de 2011

O ABORRECIMENTO

"Ennui" (Walter Sickert)


“O aborrecimento alimenta-se de sinais que só têm um sentido e que, por isso, não têm sentido nenhum.”

Alain (“Propos de littérature”)



É como as ideias. O mesmo filósofo diz noutra parte que, em religião, nada é mais perigoso do que uma só ideia. Porque as ideias foram feitas para se encontrarem e fazer prole. O que se chama de ideia fixa é o mesmo que fanatismo.

Mas os sinais devem ser interpretados com todas as ideias e não com uma ideia obsessiva, que é o que faz o hipocondríaco e aquele que se aborrece.

É curioso, noto-o de passagem, verificar como esta palavra parece ter cada vez menos lugar no mundo de hoje. Reconhecer o aborrecimento é declarar a falência da sociedade do espectáculo e da diversão a todo o custo. As pessoas só deveriam aborrecer-se por desconhecerem as novas atracções do consumismo.

Porém, não. Está tudo na cabeça e na nossa vontade de abraçar uma só ideia, precisamente aquela que nos faz mal.

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