terça-feira, 24 de maio de 2011

SABER GASTAR




“É então que se opera uma transformação espantosa e da qual não vejo todos os meandros. O chefe e os subchefes não deixam passar muito tempo pelas suas mãos os lucros duma empresa próspera. E admiti que é ridículo duplicar por força dos nossos cuidados os capitais de um prestamista que não conhecemos. Donde a estranha precaução de aumentar pouco a pouco as despesas gerais, inventando lugares bem pagos, despesas admiráveis, renovação do material, gastos em publicidade, das quais é muito fácil retirar comissões duma maneira ou doutra. Donde, enfim, uma concorrência dum novo género, em que são vencidos e desprezados aqueles que não sabem gastar.”

“Propos d’ économique”
(Alain)


Um texto datado pelos incríveis progressos dos estudos económicos?

Nestas linhas, escritas em 1934, Alain fala em 3 idades do capitalismo. Na primeira, o patrão era muitas vezes o antigo varredor do escritório. Vivia como um pobre, reinava despoticamente e pagava mal.” A segunda, é a idade dos accionistas e das sociedades anónimas. “O patrão de mil cabeças é mais ávido do que avaro; ele não tem de se preocupar com isso.” Transporta o seu dinheiro dum lado para o outro, conforme o lucro. “Comum simples movimento de capitais, esmaga uma indústria e reduz à fome todo um quarteirão. Mas ele ignora tudo isso; é só investimento e desinvestimento.”

A terceira idade (que cavalga a segunda) é a dos banqueiros e a dos que “sabem gastar”. Por isso, é ruinosa a sua passagem pelas empresas  e pelos serviços do Estado. Não é o Estado que é gastador. É a cultura das “despesas gerais” (leia-se bónus e comissões) que infecta todo o sistema. 

Os novos tenores da economia ainda não nos ensinaram isso.

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