“É então que
se opera uma transformação espantosa e da qual não vejo todos os meandros. O
chefe e os subchefes não deixam passar muito tempo pelas suas mãos os lucros
duma empresa próspera. E admiti que é ridículo duplicar por força dos nossos
cuidados os capitais de um prestamista que não conhecemos. Donde a estranha
precaução de aumentar pouco a pouco as despesas gerais, inventando lugares bem
pagos, despesas admiráveis, renovação do material, gastos em publicidade, das
quais é muito fácil retirar comissões duma maneira ou doutra. Donde, enfim, uma
concorrência dum novo género, em que são vencidos e desprezados aqueles que não
sabem gastar.”
“Propos d’ économique”
(Alain)
Um texto datado pelos incríveis progressos dos estudos
económicos?
Nestas linhas, escritas em 1934, Alain fala em 3 idades
do capitalismo. Na primeira, o patrão era muitas vezes o antigo varredor do
escritório. “Vivia
como um pobre, reinava despoticamente e pagava mal.” A segunda, é a idade dos accionistas e das sociedades
anónimas. “O patrão de mil cabeças é mais
ávido do que avaro; ele não tem de se preocupar com isso.” Transporta o seu
dinheiro dum lado para o outro, conforme o lucro. “Comum simples movimento de capitais, esmaga uma indústria e reduz à
fome todo um quarteirão. Mas
ele ignora tudo isso; é só investimento e desinvestimento.”
A terceira idade (que cavalga a segunda) é a dos
banqueiros e a dos que “sabem gastar”.
Por isso, é ruinosa a sua passagem pelas empresas e pelos serviços do Estado. Não é o Estado
que é gastador. É a cultura das “despesas gerais” (leia-se bónus e comissões)
que infecta todo o sistema.
Os novos tenores da economia ainda não nos ensinaram isso.
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