quinta-feira, 5 de maio de 2011

O REGRESSO




Um filme muito belo: “O Regresso”, de Andrei Zvyagintsev (2003). Pena é que este autor russo nos deixe à míngua de outras obras.

O pai de Ivan e Andrey volta a casa, para umas curtas férias, ao fim de 12 anos, não se sabe de fazer o quê nem onde. Os filhos eram demasiado novos para se lembrarem dele. Traz o propósito absurdo de, naqueles poucos dias, compensar a ausência duma década.

No cenário deslumbrante duma ilha deserta, no Golfo da Finlândia, os rapazes são sujeitos a uma intensa iniciação à autoridade paterna, o que aproxima Andrey, o mais velho, mas não convence o irmão.

Ao mesmo tempo que quer impor a sua disciplina que, no caso, é também uma técnica de sobrevivência, por correrem alguns perigos nessa viagem, quer fazer-se amar. Isso não resulta, de modo nenhum, com Ivan, o mais carente de afecto, que desafiando o seu medo das alturas se refugia numa torre, donde o pai, que o procura alcançar, acaba por cair, encontrando a morte.

A tragédia confere a Andrey, que até ali se deixara demasiado conduzir pelo irmão mais novo, uma nova autoridade. Com muito esforço arrastam o cadáver para o barco, e já em terra firme metem no carro os sacos e as canas de pesca. Quando voltam à margem, a corrente tinha afastado o barco que se afundo com o corpo. Ambos gritam o nome do pai, sem poderem fazer nada. Só lhes resta regressar, mas a câmara fica ali olhando o mar e o céu e depois mergulha atrás do barco afundado.

A primeira visão do pai adormecido, aquando da sua chegada, faz lembrar o célebre “raccourci” do Cristo de Mantegna. Que significa? O pai voltou do passado para ser morto, deixando o nome precioso. Ivan e Andrey jamais o esquecerão.

Um exemplo da mestria deste cineasta: na noite da sua chegada, o marido encontra-se na casa de banho e a mulher, insegura e resignada, hesita, na sua combinação preta, antes de se cobrir com o lençol. Ele volta e apaga a luz, deitando-se ao seu lado, sem uma palavra. Só vemos o grande plano do rosto dela, grave como a estepe onde desce a noite. Ela não importa. Ele veio por causa do nome.

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