“Por
muito separados que estejam no restante do seu percurso […] pensam todos que convém
substituir os costumes complicados e tradicionais que regem a sociedade do seu
tempo por regras simples e elementares, inspirados na razão e na lei natural. –
Ao olhar de perto para isto, ver-se-á que aquilo que se poderia designar por
Filosofia Política do século XVIII consistiu, por assim dizer, naquela única noção.”
(Alexis de
Tocqueville, citado por Xavier Martini n “A questão do Direito Revolucionário”)
Uma das expressões
mais em voga nos últimos tempos é dizer a propósito de tudo e de nada que: “é complicado…”
Terão as lições com
que a experiência corrigiu a Filosofia e a Razão chegado ao mundo “cá de baixo”,
ao nosso quotidiano, pelo que nos tornámos mais prudentes, reconhecendo que as
coisas podem não ser tão simples como parecem? Ou é uma manobra retórica para
nos dispensarmos de emitir uma opinião? Porque podemos sempre dizer que, “à primeira vista, parece-me que…”
Todo o nosso controlo
sobre a realidade (onde se incluem, evidentemente, os fenómenos sociais e a política
“objectiva”) depende da nossa capacidade de simplificarmos essa realidade. É o
que faz a ciência, que se abstrai para seleccionar o seu objecto. Não
poderíamos sequer ter ideias sobre coisa nenhuma porque elas dependem de
conceitos que são “simplificações” extremas.
Não sabemos se, no
futuro, algum cérebro artificial poderá lidar com a complexidade “integral” que
nos rodeia, mas, em princípio, só um outro universo poderia “pensar” o
universo.
Os Enciclopedistas e
os Filósofos do Iluminismo, a golpes de lógica e de retórica, reduziram
substancialmente os princípios que explicam o mundo, depois de Deus ter deixado
de ser a visão do mundo espontânea e universal. Para o melhor e para o pior,
claro. Essa foi a idade da Crítica que, como se sabe, é rápida e desarmante
quando os alicerces dão de si.
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