segunda-feira, 30 de maio de 2011

A IDADE DA CRÍTICA



“Por muito separados que estejam no restante do seu percurso […] pensam todos que convém substituir os costumes complicados e tradicionais que regem a sociedade do seu tempo por regras simples e elementares, inspirados na razão e na lei natural. – Ao olhar de perto para isto, ver-se-á que aquilo que se poderia designar por Filosofia Política do século XVIII consistiu, por assim dizer, naquela única noção.”


(Alexis de Tocqueville, citado por Xavier Martini n “A questão do Direito Revolucionário”)


Uma das expressões mais em voga nos últimos tempos é dizer a propósito de tudo e de nada que: “é complicado…”

Terão as lições com que a experiência corrigiu a Filosofia e a Razão chegado ao mundo “cá de baixo”, ao nosso quotidiano, pelo que nos tornámos mais prudentes, reconhecendo que as coisas podem não ser tão simples como parecem? Ou é uma manobra retórica para nos dispensarmos de emitir uma opinião? Porque podemos sempre dizer que, “à primeira vista, parece-me que…

Todo o nosso controlo sobre a realidade (onde se incluem, evidentemente, os fenómenos sociais e a política “objectiva”) depende da nossa capacidade de simplificarmos essa realidade. É o que faz a ciência, que se abstrai para seleccionar o seu objecto. Não poderíamos sequer ter ideias sobre coisa nenhuma porque elas dependem de conceitos que são “simplificações” extremas.

Não sabemos se, no futuro, algum cérebro artificial poderá lidar com a complexidade “integral” que nos rodeia, mas, em princípio, só um outro universo poderia “pensar” o universo.

Os Enciclopedistas e os Filósofos do Iluminismo, a golpes de lógica e de retórica, reduziram substancialmente os princípios que explicam o mundo, depois de Deus ter deixado de ser a visão do mundo espontânea e universal. Para o melhor e para o pior, claro. Essa foi a idade da Crítica que, como se sabe, é rápida e desarmante quando os alicerces dão de si.

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