Liszt nunca foi um
eremita, mas sentiu-se sempre tentado a sê-lo. Cortejado por mundanos e homens
da Igreja, fascinando o público feminino e inspirando grandes amores, como o de
Marie d’Agoult, não era fácil (e, no fundo, não queria) desprender-se de tantos
liames, ele que apreciava um certo inebriamento, o dos aplausos, nem é preciso
dizê-lo, mas também o do tabaco ou dum conhaque relaxantes.
Caindo nas graças de
Pio IX, que o designava pelo “mio Liszt” e lhe proporcionou uma espécie de
retiro no Monte Mario, quis tornar-se franciscano sem renunciar ao mundo
brilhante que era o seu. “Mas esqueço que
não tenciono de nenhum modo tornar-me monge, no sentido religioso do termo.
Falta-me a vocação para esse efeito, e basta-me pertencer à hierarquia da
Igreja no grau que as ordens menores me atribuem. Não vesti, pois, o burel mas
a sotaina. A este respeito, Vossa Alteza perdoar-me-á esta ligeira vaidade de
lhe contar que já me fizeram o elogio de dizer que visto a sotaina como se
sempre a tivesse vestido.” (carta ao príncipe Constantin von
Hohenzollern-Hechingen) Liszt, na
ocasião, serve-se dum velho aforismo para dizer que se o hábito não faz o
monge, tampouco o impede…
O autor da sua biografia
(Frédéric Martinez) diz noutra passagem que Liszt nunca andava longe da
ingenuidade. Por isso, alguns abusavam da sua genuína bondade. Foi talvez essa
ingenuidade que tornou possível a personagem deste abade desconcertante.
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