terça-feira, 30 de agosto de 2011

O "FRANCHISING" DA BELEZA

"That uncertain feeling" (1941), de Ernst Lubitsch


“É verdade que se encontra em cada época toda a espécie de rostos; mas, de cada vez, o gosto do dia distingue um do qual fará o rosto da felicidade e da beleza, e todos os outros rostos, a partir daí, se esforçarão por se lhe assemelhar; mesmo os mais feios se aproximam, com a ajuda da moda e dos cabeleireiros; e só nunca o alcançarão aqueles rostos, nascidos para estranhos sucessos, em que se exprime sem concessão o ideal de beleza real, mas destronado, duma época anterior.”

“O Homem Sem Qualidades”    (Robert Musil)





Lembram-se do começo de “That uncertain feeling”, em que Sebastian (Burgess Meredith) pergunta a Mrs. Baker (Merle Oberon), eleita com Mr. Baker (Melvin Douglas), como um casal feliz, o que é a felicidade? Nós sabemos que bastaram as alusões dum psicólogo e de um  pouco de espírito crítico induzido para desfazer essa fachada.

Mas que dizer do rosto da época, a não ser que as épocas são cada vez mais curtas e que essa espécie de ideal que muda tão vertiginosamente já há muito deixou de ser fruto do acaso e da adaptação espontânea para se tornar um “output” da grande máquina das imagens? O que interessa, pois, não é esse encontro entre a ideologia e a imagem, mas o que o faz abortar, a crise desse outro “franchising”.

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