Aquiles ferido |
“O
problema do elogio fúnebre é que não seja mencionado nenhum problema.”
(Michel Meyer,
“Les Rhétoriques du XXe siècle”)
Se a retórica serve
para negociar uma distância de posições, um problema, por que será ela
necessária na oração fúnebre, em que as vozes se fazem surdina, os agravos se
tentam esquecer, e é considerado justo colocar entre parêntesis a própria justiça,
como se aquele que fosse a enterrar (ou a incinerar) tivesse perdido a sua
identidade, para passar a ser um representante da espécie ou não mais do que um
símbolo?
Mas talvez esteja aí
o problema. A retórica fúnebre opera essa mudança de identidade para o nada (ou
para o simbólico). Não é, como a música, a moderação ou o “desvio” das paixões.
É uma transferência entre mundos com linguagens distintas.
Aquiles só lamenta a
sua nova condição (no Hades) porque compara o incomparável.
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