segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A MONTAGEM

Giorggio Agamben


“Não é somente uma pausa, é uma não coincidência, uma disjunção entre o som e o sentido. Eis por que Valéry foi uma vez capaz de dar esta belíssima definição da poesia: ‘A poesia, uma hesitação prolongada entre o som e o sentido’. E foi ainda por isso que Holderlin pôde dizer que a cesura, detendo o ritmo e o fluxo das palavras  e das representações, faz aparecer a palavra e a representação enquanto tais.”


“Le cinéma de Debord” (Giorggio Agamben)




Nisto se funda o paralelo que Agamben estabelece, como hipótese, entre a montagem (um dos “transcendentais” do cinema, enquanto interrupção, a par da repetição) e a poesia.

Claro que também encontramos na arte cinematográfica exemplos de montagem “elidida”. Hitchcock fez, em “The rope” a proeza de filmar um único longo plano (na realidade, constituído por 11 “shots”, dado que as câmeras não comportavam mais de 300 metros de fita), sem que a ausência de interrupção nos tornasse menos “grudados” ao ecrã. E pode-se como em alguns filmes de Straub-Huillet perseguir uma ética do ininterrupto…

O efeito distanciador da montagem parece já não funcionar, tão completa foi a assimilação dos códigos da montagem pelo espectador moderno. Será mais verosímil, sobretudo no cinema “mainstream” americano, a hipótese da montagem (que no “clip” publicitário atinge a completa “desrealização”) funcionar como o excitante duma atenção que se quer superficial e sem esforço…

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