Giorggio Agamben |
“Não
é somente uma pausa, é uma não coincidência, uma disjunção entre o som e o
sentido. Eis por que Valéry foi uma vez capaz de dar esta belíssima definição
da poesia: ‘A poesia, uma hesitação prolongada entre o som e o sentido’. E foi ainda
por isso que Holderlin pôde dizer que a cesura, detendo o ritmo e o fluxo das
palavras e das representações, faz
aparecer a palavra e a representação enquanto tais.”
“Le cinéma de
Debord” (Giorggio Agamben)
Nisto se funda o
paralelo que Agamben estabelece, como hipótese, entre a montagem (um dos “transcendentais”
do cinema, enquanto interrupção, a par da repetição) e a poesia.
Claro que também
encontramos na arte cinematográfica exemplos de montagem “elidida”. Hitchcock
fez, em “The rope” a proeza de filmar
um único longo plano (na realidade, constituído por 11 “shots”, dado que as câmeras
não comportavam mais de 300 metros de fita), sem que a ausência de interrupção
nos tornasse menos “grudados” ao ecrã. E pode-se como em alguns filmes de
Straub-Huillet perseguir uma ética do ininterrupto…
O efeito distanciador
da montagem parece já não funcionar, tão completa foi a assimilação dos códigos
da montagem pelo espectador moderno. Será mais verosímil, sobretudo no cinema “mainstream” americano, a hipótese da
montagem (que no “clip” publicitário atinge a completa “desrealização”) funcionar como o excitante duma atenção que se quer
superficial e sem esforço…
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