sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A CÁPSULA DO SONO




“Já que um homem quando dorme está mais próximo
da astronomia que da sua cama
propriamente dita.”


“Viagem à Índia”   (Gonçalo Tavares)



Se a gravidade pudesse ter uma expressão humana era a do homem adormecido. Porque então tudo em nós caiu na terra, e a mais pequena ascensão nos desperta.

É um paradoxo nas nossas vidas “electrizadas”, sem tempo para pensar, esse estado em que o corpo se entrega a uma alquimia desconhecida, num espaço e num tempo que já não são os nossos. Verdadeiramente, não é o ser social que aqui se nos apresenta, mas o ser cósmico, desligado de todas as relações com a sua espécie.

Já compararam o sono à ante-câmara da morte, mas talvez ele seja antes um vislumbre daquilo que continuaremos a ser depois de perdermos a forma humana.

O cinema,  por exemplo, em “The invasion of the Body Snatchers” (1956) de Don Siegel, leva a estranheza do sono aos paroxismos do terror.

Uma vez mais, podemos escolher entre o que nos faz expandir e o que nos reduz ao pó dos caminhos. E podemos ainda dormir, fechando os ouvidos à flauta de Orfeu.

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