“Já que um homem quando dorme está mais próximo
da astronomia que da sua cama
propriamente dita.”
“Viagem à
Índia” (Gonçalo Tavares)
Se a gravidade pudesse ter uma
expressão humana era a do homem adormecido. Porque então tudo em nós caiu na
terra, e a mais pequena ascensão nos desperta.
É um paradoxo nas nossas vidas
“electrizadas”, sem tempo para pensar, esse estado em que o corpo se entrega a
uma alquimia desconhecida, num espaço e num tempo que já não são os nossos.
Verdadeiramente, não é o ser social que aqui se nos apresenta, mas o ser
cósmico, desligado de todas as relações com a sua espécie.
Já compararam o sono à
ante-câmara da morte, mas talvez ele seja antes um vislumbre daquilo que
continuaremos a ser depois de perdermos a forma humana.
O cinema, por exemplo, em
“The invasion of the Body Snatchers” (1956) de Don Siegel, leva a estranheza do
sono aos paroxismos do terror.
Uma vez mais, podemos escolher
entre o que nos faz expandir e o que nos reduz ao pó dos caminhos. E podemos
ainda dormir, fechando os ouvidos à flauta de Orfeu.
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