segunda-feira, 8 de agosto de 2011

LISZT E O CZAR

Franz Liszt (1811/1886)


“Se por acaso os príncipes levantam a voz enquanto ele toca, Liszt pára de imediato. Usa os cabelos compridos como sempre, o que desagrada ao marcial Nicolau I. O czar da Rússia não brinca. Os seus cabelos são raros, as suas ideias conservadoras. A sua maneira de acolher o virtuoso, em Abril de 1842, é uma obra-prima de indelicadeza:

- Nós somos quase compatriotas, Sr. Liszt?
- Sire…
- Sois húngaro, não é assim?
- Sim, Majestade.
- Eu tenho um regimento na Hungria.

O pianista vingou-se tocando uma marcha húngara.”

“Franz Liszt” (Frédéric Martinez)




Deixar de tocar se os grandes não lhe prestam atenção e conversam para o lado era permitido a um homem com a fama e o talento de Liszt. A interrupção podia ser vista como o sinal dum respeito quase sagrado pelo humor dos príncipes, que estão habituados a fazer o vácuo à sua volta (e o silêncio) e que, apesar do que fazem, nunca são mal-educados, mas, às vezes, “indelicados”, de propósito, como Nicolau I.

Na realidade, porém, era o privilégio duma outra soberania e uma grande ideia da sua arte recusar a música a quem não queria ouvir. Com Liszt e o vedetismo, os artistas começaram a sacudir o jugo dos seus reais patronos.

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