Franz Liszt (1811/1886) |
“Se
por acaso os príncipes levantam a voz enquanto ele toca, Liszt pára de
imediato. Usa os cabelos compridos como sempre, o que desagrada ao marcial
Nicolau I. O czar da Rússia não brinca. Os seus cabelos são raros, as suas
ideias conservadoras. A sua maneira de acolher o virtuoso, em Abril de 1842, é
uma obra-prima de indelicadeza:
- Nós somos quase compatriotas, Sr. Liszt?
- Sire…
- Sois húngaro, não é assim?
- Sim, Majestade.
- Eu tenho um regimento na Hungria.
O pianista vingou-se tocando uma marcha húngara.”
“Franz Liszt”
(Frédéric Martinez)
Deixar de tocar se os
grandes não lhe prestam atenção e conversam para o lado era permitido a um
homem com a fama e o talento de Liszt. A interrupção podia ser vista como o
sinal dum respeito quase sagrado pelo humor dos príncipes, que estão habituados
a fazer o vácuo à sua volta (e o silêncio) e que, apesar do que fazem, nunca
são mal-educados, mas, às vezes, “indelicados”, de propósito, como Nicolau I.
Na realidade, porém, era
o privilégio duma outra soberania e uma grande ideia da sua arte recusar a
música a quem não queria ouvir. Com Liszt e o vedetismo, os artistas começaram
a sacudir o jugo dos seus reais patronos.
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