quarta-feira, 17 de agosto de 2011

HAL ENTRONIZADO





“Falstaff – Meu rei! Meu Júpiter! É a ti que falo, coração meu!
Henrique V – Não te conheço, velhote; vai às tuas rezas. Que mal assentam os cabelos brancos nos injudiciosos e nos bobos!”

“Henry IV-Part II” (William Shakespeare)



A fereza deste corte com o passado é de arrepiar. O rei não se despede apenas do velho companheiro de pândegas, mas de si próprio, como Hal, o príncipe herdeiro perdido em sonhos, como se quisesse fugir ao seu destino.

Falstaff foi deveras traído pelo amigo? Ou foi esse amigo que morreu ao sentar-se no trono do Bolingbroke? A função faz o homem. Normalmente, há uma transição, durante a qual as antigas relações são postas em causa. Dum dia para o outro, só uma doença grave muda assim um homem. Mas o grande teatro mostra-nos como um quilo de metal na cabeça fez crescer os espectros.

“Durante muito tempo vi em sonhos um homem assim, abojado pelos excessos, e assim velho, e assim profano; acordado, porém, o sono meteu-me nojo. Doravante, trata menos do teu corpo e mais da tua alma; abandona a glutonaria. Lembra-te de que a cova escancara três vezes mais a boca para ti que para qualquer outro homem;” (ibidem)

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