“Falstaff
– Meu rei! Meu Júpiter! É a ti que falo, coração meu!
Henrique
V – Não te conheço, velhote; vai às tuas rezas. Que mal assentam os cabelos
brancos nos injudiciosos e nos bobos!”
“Henry IV-Part II” (William Shakespeare)
A fereza deste corte
com o passado é de arrepiar. O rei não se despede apenas do velho companheiro
de pândegas, mas de si próprio, como Hal, o príncipe herdeiro perdido em
sonhos, como se quisesse fugir ao seu destino.
Falstaff foi deveras
traído pelo amigo? Ou foi esse amigo que morreu ao sentar-se no trono do Bolingbroke?
A função faz o homem. Normalmente, há uma transição, durante a qual as antigas
relações são postas em causa. Dum dia para o outro, só uma doença grave muda
assim um homem. Mas o grande teatro mostra-nos como um quilo de metal na cabeça
fez crescer os espectros.
“Durante
muito tempo vi em sonhos um homem assim, abojado pelos excessos, e assim velho,
e assim profano; acordado, porém, o sono meteu-me nojo. Doravante, trata menos
do teu corpo e mais da tua alma; abandona a glutonaria. Lembra-te de que a cova
escancara três vezes mais a boca para ti que para qualquer outro homem;”
(ibidem)
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