quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O CONSENTIMENTO



“O acordo onde de parte a parte há consentimento é justo, segundo as leis da cidade real.”


(Platão, in “O Banquete”, trad. de Simone Weil)



Talvez nunca se tenha chegado a uma melhor definição da justiça do que esta, pelo consentimento. Sobretudo, nas relações entre os indivíduos e dentro da própria família, não se vê pelo que poderia ser substituído.

Quando se fala na igualdade (a menos que se tenha em mente algo tão genérico que seja distintivo da espécie ou da condição de ser vivo), sabemos que a uns basta uma coisa tão indefinível como a igualdade de oportunidades e outros não pretendem alcançar menos do que a igualdade aritmética ao nível dos proventos. Por tudo isso, a igualdade não é suficiente para definir a justiça.

O consentimento é, evidentemente, um fenómeno muito complexo que se pode verificar em regimes políticos os mais diferentes entre si, desde a democracia ocidental à sociedade de castas. Os “intocáveis” (harijans), em razão da sua crença (e enquanto puderem viver isolados do contexto mundial) são um exemplo extremo de consentimento “problemático”.

Mas nos regimes democráticos, onde as esperanças dos eleitores podem ser sistematicamente defraudadas, tornando-se o voto na “corda com que o povo se enforca”, temos de reconhecer que o consentimento existe, pelo menos, em relação ao sistema.

O problema é que o consentimento que tem a ver com a justiça (e não com a alienação, como diria Marx) pressupõe o conhecimento pessoal, a confiança e até o amor, coisas que a política quase sempre inviabiliza.

Por isso, em democracia, o consenso é a coisa mais importante e a que mais depende do impasse de qualquer outra alternativa. A “Queda do Muro” não fez aparecer mais democratas, em vez disso, tornou mais florescente o “realismo” político.

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