“O
acordo onde de parte a parte há consentimento é justo, segundo as leis da
cidade real.”
(Platão, in “O
Banquete”, trad. de Simone Weil)
Talvez nunca se tenha
chegado a uma melhor definição da justiça do que esta, pelo consentimento. Sobretudo,
nas relações entre os indivíduos e dentro da própria família, não se vê pelo
que poderia ser substituído.
Quando se fala na
igualdade (a menos que se tenha em mente algo tão genérico que seja distintivo
da espécie ou da condição de ser vivo), sabemos que a uns basta uma coisa tão
indefinível como a igualdade de oportunidades e outros não pretendem alcançar
menos do que a igualdade aritmética ao nível dos proventos. Por tudo isso, a
igualdade não é suficiente para definir a justiça.
O consentimento é,
evidentemente, um fenómeno muito complexo que se pode verificar em regimes
políticos os mais diferentes entre si, desde a democracia ocidental à sociedade
de castas. Os “intocáveis” (harijans), em razão da sua crença (e enquanto
puderem viver isolados do contexto mundial) são um exemplo extremo de
consentimento “problemático”.
Mas nos regimes
democráticos, onde as esperanças dos eleitores podem ser sistematicamente
defraudadas, tornando-se o voto na “corda com que o povo se enforca”, temos de
reconhecer que o consentimento existe, pelo menos, em relação ao sistema.
O problema é que o
consentimento que tem a ver com a justiça (e não com a alienação, como diria
Marx) pressupõe o conhecimento pessoal, a confiança e até o amor, coisas que a
política quase sempre inviabiliza.
Por isso, em
democracia, o consenso é a coisa mais importante e a que mais depende do
impasse de qualquer outra alternativa. A “Queda do Muro” não fez aparecer mais
democratas, em vez disso, tornou mais florescente o “realismo” político.
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