“Quando
um debate se desloca para aqueles que nele participam, mais o logos subjectiviza a implicação, o
valor (que, mais do que da validade de um argumento, traduz a comunidade de
crenças e de emoções que aí participam) e a qualidade (o ‘quem fala?’ importa
mais do que ‘o que é que se diz?’). A distância ela mesma é o seu próprio
objecto. Num tal contexto, a desqualificação do oponente leva a melhor sobre a
refutação do seu argumento, tal como, para o pathos, aquilo que se sente passa à
frente em relação ao juízo de adequação das respostas. Pelo contrário, quanto
mais a argumentação é ad
rem, mais as
noções de implicação, de qualificação e de valor se dirigem para os próprios
argumentos.”
“Principia
Rhetorica” (Michel Meyer)
Todos os dias podemos
assistir nos debates da televisão ao momento em que os argumentos se tornam um “corpo
a corpo”, referindo-se às pessoas envolvidas. Basta uma ponta de humor para o ad rem
se transformar em ad
hominem. Por isso, a táctica de cobrir a voz do outro ou
de o interromper não pretende mais do que “desqualificar o adversário”, em vez
de lhe responder.
Ora, são precisamente
estes momentos que tornam os debates interessantes para a maior parte dos
espectadores, e que são televisão. A ideia de que as pessoas acendem o aparelho
para escolher a mais bem justificada das opções é ingénua. Só aqueles que não
sabem “para que lado cair” é que procuram o simpático imponderável que, à
semelhança dum lance de dados, os ajude a decidir.
O espectáculo de um debate
deve sempre ser distinguido de um debate, porque tem outras regras. É ainda a “comunidade
de crenças e de emoções” que está em causa, em vez da validade dos argumentos,
mas o espectador não se envolve.
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