“Desde
1848, nos países ocidentais, o processo de assimilação foi tão rápido e tão
profundo que se tem o direito de pensar que só a segregação imposta impediu nos
diferentes países uma completa assimilação; esta teria tido lugar se até à
Revolução francesa a religião católica não tivesse sido esta única ‘cultura de
Estado’ que precisamente exigia a segregação dos judeus porque eles eram, religiosamente
falando, irredutíveis (…)”
“Lettres de
prison” (Antonio Gramsci)
Segundo Gramsci, a
vida do gueto terá imposto algumas das características que passam por raciais, havendo toda a diferença do mundo
entre um judeu inglês e um judeu da Galícia, no Leste europeu.
A segregação modifica
o olhar sobre o segregado, como se sabe. Mas a modificação também se dá no
outro sentido. O judaísmo não seria tão “irredutível” se não fosse segregado.
O que se diz da
religião do Livro, a sua portabilidade e a relação directa do leitor com Deus
que tanto terá feito avançar a consciência individual (perdoe-se o pleonasmo),
é provavelmente uma resposta a essa diferença imposta pelo Estado e pela
religião.
Por muito ‘politicamente
correcto’ que hoje se pretenda ser, não se pode anular o facto histórico dessa
irredutibilidade a que as tensões políticas e religiosas de hoje, no Médio
Oriente, dão uma espécie de sobrevivência mítica. O complexo de Israel não se
desfaz pela racionalização, nem por nenhuma cura “psicanalítica”. Só a usura o
poderá desfazer, uma vez resolvido o problema da segurança na região.
A assimilação dos
judeus, com “saídas” para o “deísmo puro ou o ateísmo”, como diz o
revolucionário italiano, seria em toda a parte a norma, não fosse o Estado de
Israel e tudo o que ele representa terem virado contra a geo-política os
fantasmas do gueto.
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