Pieter Bruegel (Landscape with the Fall of Icarus) |
“Na
introdução à sua obra “De jure belli et pacis”, Hugo Grotius exprimiu a mesma
convicção. De acordo com ele, não é de modo nenhum impossível descobrir uma ‘matemática
da política’. A vida social do homem não é uma mera massa de factos
incoerentes, e ao acaso. Está baseada em juízos que têm a mesma validade
objectiva e são passíveis da mesma firme demonstração de qualquer proposição
matemática. Porque não estão dependentes de observações empíricas acidentais;
têm o carácter de verdades eternas e universais.”
“The myth of the State” (Ernst Cassirer)
Esta fé na razão é a
mesma de Descartes, contemporâneo de Grotius. E nós temos de concordar que os
factos sociais não são, decerto, uma massa incoerente e devem seguir a sua lei
própria. Só que a infinidade de interacções na vida social não nos permite
encontrar mais do que uma estatística e nunca por nunca poderemos prever o
futuro. De resto, a “validade objectiva” dos juízos que contribuem para essa
massa de factos sociais não pode ser demonstrada.
Mas essa Razão
triunfante gerou a Revolução Francesa e a ideia metafísica de que o homem pode
reproduzir a “máquina social” segundo um plano. De facto, ideias como essa são a cera com que Ícaro pretendeu alcançar o
sol. São ilusões tão necessárias como as nossas razões.
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