quinta-feira, 28 de abril de 2011

QUANDO O PASSADO ERA SUPERIOR



Ao mesmo tempo que se arrastava, nas margens do Lago Constança, o concílio dos bispos começado em 1414, um secretário do anti-papa João XXIII, Poggio Bracciolini, descobre na abadia de Saint-Gall, a alguns quilómetros do Lago, um manuscrito completo das “Instituições Oratórias” de Quintiliano, um autor que viveu mil e trezentos anos antes. O texto era mais ou menos conhecido de alguns letrados, “mas o mérito de Poggio, no regresso do concílio, é fazer dele imediatamente uma grande publicidade. (…) Quintiliano será uma das grandes referências do Renascimento.” (Benoît Timmermans)

Estamos, feliz ou infelizmente, ao abrigo de grandes redescobertas como essa. Não podemos esperar de nenhuma Antiguidade Clássica o novo impulso para a filosofia, nem, sobretudo, para a ciência. A não ser que, como no “Planeta dos Macacos”, ainda venhamos a encontrar, nas nossas viagens, numa praia remota  a cabeça e o braço com o facho da estátua da Liberdade.

A grandeza dos vestígios desse passado milenar que chegou à Europa da Idade Média, através de Bizâncio e do mundo árabe, não podia ter deixado dúvida nenhuma. Foi uma cultura superior, mas vencida pelo tempo, que se impôs aos europeus de então, como a Grécia se impôs ao império romano. Não ter perdido esse reencontro ficou a dever-se, por certo, ao facto daquela Europa ter de algum modo dado continuidade à cultura antiga. Não foi o choque da novidade, mas a recuperação duma amnésia.

Talvez que a Física que há-de suceder  a Einstein  e a outras estrelas já seja passado algures. Ninguém o pode dizer, e essa crença não tem nenhuma actualidade. Mas deverá ter sido esse o sentimento dos homens do Renascimento ao poderem ler Platão, na íntegra e na sua língua.

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