Ao mesmo tempo que se
arrastava, nas margens do Lago Constança, o concílio dos bispos começado em
1414, um secretário do anti-papa João XXIII, Poggio Bracciolini, descobre na
abadia de Saint-Gall, a alguns quilómetros do Lago, um manuscrito completo das “Instituições
Oratórias” de Quintiliano, um autor que viveu mil e trezentos anos antes. O
texto era mais ou menos conhecido de alguns letrados, “mas o mérito de Poggio, no regresso do concílio, é fazer dele
imediatamente uma grande publicidade. (…)
Quintiliano será uma das grandes
referências do Renascimento.” (Benoît Timmermans)
Estamos, feliz ou
infelizmente, ao abrigo de grandes redescobertas como essa. Não podemos esperar
de nenhuma Antiguidade Clássica o novo impulso para a filosofia, nem,
sobretudo, para a ciência. A não ser que, como no “Planeta dos Macacos”, ainda
venhamos a encontrar, nas nossas viagens, numa praia remota a cabeça e o braço com o facho da estátua da
Liberdade.
A grandeza dos
vestígios desse passado milenar que chegou à Europa da Idade Média, através de
Bizâncio e do mundo árabe, não podia ter deixado dúvida nenhuma. Foi uma
cultura superior, mas vencida pelo tempo, que se impôs aos europeus de então,
como a Grécia se impôs ao império romano. Não ter perdido esse reencontro ficou
a dever-se, por certo, ao facto daquela Europa ter de algum modo dado
continuidade à cultura antiga. Não foi o choque da novidade, mas a recuperação
duma amnésia.
Talvez que a Física
que há-de suceder a Einstein e a outras estrelas já seja passado algures.
Ninguém o pode dizer, e essa crença não tem nenhuma actualidade. Mas deverá ter
sido esse o sentimento dos homens do Renascimento ao poderem ler Platão, na
íntegra e na sua língua.
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