Revi o primeiro filme
de Volker Schlöndorff, de 1966, “Der
junge Törless”, inspirado no romance de Robert Musil.
Esta história sobre a
“banalidade do mal”, escrita no princípio do século XX, antes das duas guerras
mundiais e da célebre análise de Hannah Arendt e do termo com que cunhou toda
uma época, só pode ser premonitória.
Törless, ao contrário
de Beineberg e de Reiting, que se “revelam” torcionários na perseguição do mais
fraco (Basini), torna-se cúmplice apenas para compreender como é que as pessoas
normais se podem transformar em carrascos do seu semelhante. No final do
calvário de Basini, já tinha mudado de campo, mas sem qualquer compaixão ou
sentimento místico. A ideia dos números imaginários, em matemática, que o seu
professor fora impotente para explicar, exortando-o a crer enquanto não pudesse
ele mesmo compreender, ajuda-o a integrar a anomalia do mal na sociedade
humana. Entretanto, Törless julga a vítima e os seus algozes com a distância
dum entomologista.
Na parte mais
contestável do filme, a intuição de Musil torna-se prelecção. Diante do reitor
e do pessoal docente, visivelmente dispostos a “passar uma esponja” sobre a sua
responsabilidade e a justiçar o único culpado (a vítima), porque todos os
alunos acabaram por se juntar no ginásio à orgia torcionária de Beineberg e
Reiting, Törless ( Mathieu Carrière, na altura uma grande esperança), dum modo
displicente, lança o resultado das suas elucubrações como “pérolas a porcos”.
Ele realmente quer afastar-se do colégio e prosseguir o seu solitário caminho,
longe da infecção.
A ligação entre o
problema dos números imaginários que, apesar da sua não existência podem
entrar, por exemplo, nos cálculos de engenharia duma ponte, como se diz no
filme, e esse outro que é o de parecer que não há pessoas nem boas nem más,
pois tudo dependeria duma oportunidade, fica por esclarecer. A ligação é apenas
formulada por Törless e justifica, nas suas próprias palavras, uma nova
cautela.
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