Sócrates e Aspásia (Daumier) |
“É
óbvio que a ignorância socrática não é de modo nenhum uma atitude negativa.
Representa, pelo contrário, um ideal muito original e positivo do conhecimento
humano e da conduta humana. Aquilo a que podemos chamar de cepticismo socrático
é apenas uma máscara, atrás da qual, Sócrates, seguindo o seu modo irónico
habitual, esconde o seu ideal. O cepticismo de Sócrates destina-se a destruir
os muitos e diversos modos de conhecimento que obscurecem e tornam ineficaz a
única coisa importante: o auto-conhecimento do homem.”
“The myth of the state” (Ernst Cassirer)
Ironia, mas também
astúcia, porque Sócrates esconde o seu ideal por detrás dum cepticismo
aparente.
Ele tinha a
experiência suficiente para saber que as convicções de cada um estão
normalmente amuralhadas e, logo que se mostra uma certeza no outro campo,
ergue-se a ponte levadiça. Porque um homem que não defendesse, intuitivamente,
as suas crenças seria ainda mais frágil do que o “roseau
pensant” de Pascal.
A táctica do “Cavalo
de Tróia” é a melhor para encontrar a porta aberta e os escudos encostados à
parede. Sócrates, primeiro, simula partilhar o ponto de vista do seu “oponente”
e está mesmo disposto a emprestar toda a força aos argumentos dele, mas só para
melhor fazer nascer as suas objecções dentro da “cidadela”.
O famoso “só sei que nada sei” é a mais bela gazua
do pensamento, porque é uma declaração que se propõe começar do zero e convida
a outra parte a fazer o mesmo.
Mas o conhecimento do
homem sobre si próprio é precisamente aquilo que, em princípio, não se poderia
partilhar… Pelo que talvez a verdadeira interpretação do oráculo seja a dum “sabe o que estás a dizer”.
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