quarta-feira, 20 de abril de 2011

FATUS


A Adoração dos Pastores (Lorenzo Lotto)


A virgem e os pastores, com S. José na sombra e dois anjos que testemunham a cena, formam uma abóbada de fatus sobre o que parece uma brincadeira de criança, mas que, na verdade, é o símbolo do sacrifício pascal. O cordeiro presta-se à manipulação do bebé, ao mesmo tempo que projecta uma sombra no seu rosto.

Ao contrário do que acontece com um bebé verdadeiro (este seria a pomba estúpida de que fala Alberto Caeiro), o seu jogo e as risadas que podemos imaginar não desanuviam a fronte dos assistentes. É como se diante do menino e do manso animal estivessem todos a ver a Cruz.

O olhar deles vem do futuro e anula aquela infância e aquele tempo de crescer. A gravidade do futuro sucede sem interrupções à gravidez da Virgem. Tudo é símbolo, tudo é real, mas nada é actual.

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