quarta-feira, 13 de abril de 2011

A FRAUDE CERTIFICADA




“O linguista, filósofo e psicanalista francês Jean-Claude Milner escreveu sobre esta questão um livro interessante: ‘Voulez-vous être évalué?’ Que diz ele? Que os avaliadores são os sofistas do nosso tempo; que a sofística da avaliação resolve sumariamente as questões dos critérios e da legitimidade dos avaliadores, e que o regime evita acima de tudo que se coloque a pergunta: quem avalia os avaliadores?”


(António Guerreiro, in “Ao Pé da Letra”)


Depois do processo de avaliação dos professores ter ido por água abaixo no Parlamento, numa altura em que Júpiter ensandeceu os sofistas, é arriscado, talvez, pretender que o texto esteja na ordem do dia. Mas está, e de que maneira!

Porque, afinal, quem avalia as Moody, Standard & Poor, Fitch e quejandas?

Se fosse preciso um exemplo de como a avaliação é uma ideologia, no sentido marxista do termo, não podíamos escolher melhor. A ideologia, como se sabe, funciona melhor no “sub-liminar” e a prova que esta conquistou os espíritos é que ninguém pergunta que espécie de conhecimento e de legitimidade têm os que não previram o naufrágio de outro “Titanic” em 2008 e que agora jogam com o destino dos povos?

Claro que é preciso separar o “trigo do joio” e, por exemplo, um bom professor devia ser reconhecido e estimulado através dum método justo. Isto não é sofística nem ideologia de contrabando. É apenas o senso-comum.

Quanto aos oráculos das agências de rating, trata-se duma coisa completamente distinta. Não é possível ter da economia política a ciência nem a presciência de que essas agências se arrogam (nem nos diplomados por Harvard ou Yale). E, por outro lado, as repercussões de tais oráculos, sobretudo em tempo de pânico (quente ou frio), são tão gravosas para milhões de pessoas que deveria existir o bom-senso de não colocar tanto poder destrutivo em tão poucas e mãos e em tão levianos espíritos.

É sabido, além disso, que esses oráculos criam grande parte do problema, como se viu no nosso país. Que alguém grite que o rei vai nu!

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