“O
linguista, filósofo e psicanalista francês Jean-Claude Milner escreveu sobre
esta questão um livro interessante: ‘Voulez-vous être évalué?’ Que diz ele? Que
os avaliadores são os sofistas do nosso tempo; que a sofística da avaliação
resolve sumariamente as questões dos critérios e da legitimidade dos avaliadores,
e que o regime evita acima de tudo que se coloque a pergunta: quem avalia os
avaliadores?”
(António
Guerreiro, in “Ao Pé da Letra”)
Depois do processo de
avaliação dos professores ter ido por água abaixo no Parlamento, numa altura em
que Júpiter ensandeceu os sofistas, é arriscado, talvez, pretender que o texto esteja
na ordem do dia. Mas está, e de que maneira!
Porque, afinal, quem
avalia as Moody, Standard & Poor, Fitch e quejandas?
Se fosse preciso um
exemplo de como a avaliação é uma ideologia, no sentido marxista do termo, não
podíamos escolher melhor. A ideologia, como se sabe, funciona melhor no “sub-liminar”
e a prova que esta conquistou os espíritos é que ninguém pergunta que espécie
de conhecimento e de legitimidade têm os que não previram o naufrágio de outro “Titanic”
em 2008 e que agora jogam com o destino dos povos?
Claro que é preciso
separar o “trigo do joio” e, por exemplo, um bom professor devia ser
reconhecido e estimulado através dum método justo. Isto não é sofística nem
ideologia de contrabando. É apenas o senso-comum.
Quanto aos oráculos
das agências de rating,
trata-se duma coisa completamente distinta. Não é possível ter da economia
política a ciência nem a presciência de que essas agências se arrogam (nem nos
diplomados por Harvard ou Yale). E, por outro lado, as repercussões de tais
oráculos, sobretudo em tempo de pânico (quente ou frio), são tão gravosas para
milhões de pessoas que deveria existir o bom-senso de não colocar tanto poder
destrutivo em tão poucas e mãos e em tão levianos espíritos.
É sabido, além disso,
que esses oráculos criam grande parte do problema, como se viu no nosso país.
Que alguém grite que o rei vai nu!
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