sábado, 16 de abril de 2011

O CUNHA E O BISPO

Luís António Verney (1713/1792)


“(…) porque eu para esse reino não escrevo senão o que se possa ler.”


(Luís António Verney, Carta de 1/1/1753)



Não é que Verney se considere ilegível, mas a sua opinião sobre a ignorância e a presunção da gente letrada do reino, que não perde uma oportunidade de se estatelar ao comprido quando chega a uma cidade de maledicência como Roma, torna-o circunspecto, porque não deseja ser mal interpretado ou tido como “estrangeiro” ao quadrado.

Verney conta o caso dum tal Cardeal Cunha que tinha chegado àquela dignidade sem sequer saber o seu latim. Quando, na Cúria romana, um bispo “doutíssimo” defendeu, diante dele, a bula “Unigenitus”, “o Cunha respondeu estas memoráveis palavras que tinha composto no espaço daquela hora: “Pai de uma parte e filho de outra, isto não me parece que seja bom!” E Verney acrescenta: “no entanto, o delicadíssimo tribunal do Santo Ofício estava na sua mão.” (Carta de 8/10/1766)

Não há nada que se aproxime, hoje, na sua função, do latim daquele tempo como a linguagem dos economistas. Mas fizemos, desde então, imensos progressos porque mesmo entre nós quase desapareceram os Cunhas e só se encontram os “bispos doutíssimos”.

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