Luís António Verney (1713/1792) |
“(…)
porque eu para esse reino não escrevo senão o que se possa ler.”
(Luís António
Verney, Carta de 1/1/1753)
Não é que Verney se
considere ilegível, mas a sua opinião sobre a ignorância e a presunção da gente
letrada do reino, que não perde uma oportunidade de se estatelar ao comprido quando
chega a uma cidade de maledicência como Roma, torna-o circunspecto, porque não
deseja ser mal interpretado ou tido como “estrangeiro” ao quadrado.
Verney conta o caso
dum tal Cardeal Cunha que tinha chegado àquela dignidade sem sequer saber o seu
latim. Quando, na Cúria romana, um bispo “doutíssimo” defendeu, diante dele, a
bula “Unigenitus”, “o Cunha respondeu estas memoráveis palavras que tinha
composto no espaço daquela hora: “Pai de
uma parte e filho de outra, isto não me parece que seja bom!” E Verney
acrescenta: “no entanto, o delicadíssimo
tribunal do Santo Ofício estava na sua mão.” (Carta de 8/10/1766)
Não há nada que se
aproxime, hoje, na sua função, do latim daquele tempo como a linguagem dos
economistas. Mas fizemos, desde então, imensos progressos porque mesmo entre
nós quase desapareceram os Cunhas e só se encontram os “bispos doutíssimos”.
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