“O
passado em todos os casos torna-se demasiado belo. Mesmo quando as pessoas nos
contam os passados mais atrozes, logo que os tenham contado, são belos de mais.
A
facilidade e a satisfação de se ter sobrevivido a tais coisas torna a sua
narração colorida.”
“Le coeur secret
de l’horloge” (Elias Canetti)
O passado, tal como foi vivido, pertence a outro
corpo, um corpo que já não existe. A memória duma infância que se encontra a
anos-luz do que somos só pode ser evocada como poesia. E todos conhecemos essa
alquimia que transforma, por exemplo, uma viagem em que nem tudo correu bem em
saudade. Ou como “reescrevemos” a história duma relação mal-sucedida.
Mas não se pode abordar o tempo sem falar em
Proust. Não é ao passado que ele volta,
na célebre associação olfactiva da madalena, mas à escrita. O tempo dos últimos
Guermantes está expresso na troca das máscaras.
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