segunda-feira, 4 de abril de 2011

O PASSADO NÃO SE ENCONTRA



“O passado em todos os casos torna-se demasiado belo. Mesmo quando as pessoas nos contam os passados mais atrozes, logo que os tenham contado, são belos de mais.
A facilidade e a satisfação de se ter sobrevivido a tais coisas torna a sua narração colorida.”

“Le coeur secret de l’horloge”  (Elias Canetti)



O passado, tal como foi vivido, pertence a outro corpo, um corpo que já não existe. A memória duma infância que se encontra a anos-luz do que somos só pode ser evocada como poesia. E todos conhecemos essa alquimia que transforma, por exemplo, uma viagem em que nem tudo correu bem em saudade. Ou como “reescrevemos” a história duma relação mal-sucedida.

Mas não se pode abordar o tempo sem falar em Proust. Não é ao passado  que ele volta, na célebre associação olfactiva da madalena, mas à escrita. O tempo dos últimos Guermantes está expresso na troca das máscaras.

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