“A centralização desapareceu ao mesmo tempo que
as organizações de partidos republicanos crescentemente estabeleceram as suas
agendas a partir de 1989, enquanto que a ausência de argumentação política
aberta (no que era distinta duma argumentação altamente esotérica), que tinha
sido tão característica da vida dentro do partido, deu lugar a um tal choque de
opiniões entre os membros do próprio partido sobre problemas de importância fundamental
que alguns Comunistas conservadores (e mesmo Gorbachev em raras ocasiões) se
queixavam de que o partido se tinha tornado uma sociedade de debates.”
“The Gorbachev Factor” (Archie Brown)
É o “em tempo de guerra, não se limpam armas”
contra outro lugar-comum: “da discussão
nasce a luz.”
Nos tempos de crise,
os perigos deveriam ser suficientes para moderar a discussão entre as várias
opiniões. E, normalmente, verifica-se que o medo assume, nessas alturas, a
função do bom-senso.
Outra coisa se passa
com as facções, que podem engrenar num discurso paranóico mesmo no meio duma
crise. Ora, os partidos não têm a vocação do auto-sacrifício. Não abdicarão da
demagogia em tempo de eleições, nem aceitarão pacificamente que as ideias dum
concorrente são as que ele próprio defende, só que sob outra roupagem. Porque
perder o que o distingue é a morte de qualquer partido. Como se vê na presente
desgraça, mesmo quando está à vista de toda a gente que o futuro governo só
pode alterar as vírgulas dum programa imposto do exterior, cada partido insiste
em que é o mais competente para isso e que o outro, ou os outros são o fim do
mundo.
Quanto à “sociedade
de debates”, ela é um custo necessário da liberdade de opinião, sem a qual não
pode existir verdadeiro progresso. O parlamento é o altar dessa liberdade. Tudo
o que aí se passa parece quase só ritual. Porque o que realmente interessa
passa-se fora do hemiciclo e é fora dele que se travam as verdadeiras
discussões.
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