Dum momento para o
outro, ficamos pobres, ou tomamos consciência de que vivíamos “acima dos nossos
meios”. Mas não era necessário. Podia-se continuar a empurrar para o futuro um
acerto de contas, que poderia ser muito diferente, para pior (uma guerra, por
exemplo), ou para melhor (uma geração mais preparada, ou a descida do Espírito
Santo sobre os nossos empresários estado-dependentes e homens de partido).
Ora, este tão
dramático percalço deve-se a uma única causa: à opinião e aos fazedores de
opinião.
Os bancos deixaram de
ser credíveis depois da grande débâcle
para que arrastaram os próprios estados. E os bancos vivem da opinião. Se ninguém
acreditasse neles, iam todos à falência. Tudo isto tem muito pouco a ver com
qualquer tipo de racionalidade económica. Está mais próximo da imaginação e da
propaganda. Um banco falido pode manter-se à tona e até florescer, gastando
muito para além dos seus meios: multiplicando os seus balcões e exibindo os seus
mármores como qualquer capela florentina. Os dourados sugerem a riqueza e a
estabilidade duma monarquia do Ancien
Régime. Mas tudo isso passou a ser visto, agora, com os
olhos desiludidos de quem já não sabe em que acreditar.
As agências de rating,
ainda há pouco tempo mancomunadas com os gabirus da Golden Sachs e dos Lehman
Brothers que soltaram os ventos da ruína, dos odres de Wall Street, apresentam-se agora como a única fonte
credível. Porque toda a gente espera que, depois de tanto pecarem, se queiram
redimir, pelo menos durante um tempo (é a sua travessia do deserto com tenda
climatizada e prémios alibabescos), através de diagnósticos “rigorosos” e implacáveis
como o destino.
Todos os erros do
governo e os da oposição passaram a ter consequências mais desastrosas do que
antes, senão irremediáveis. E os partidos não sabem viver de outra maneira,
senão de crise em crise. Isso parece depender menos das pessoas que os formam
do que das escolhas que são obrigadas a fazer para salvar os partidos. Tempos
difíceis para o clubismo democrático em que temos vivido.
Se não estamos todos doidos, devia ser
possível convencer os credores de que têm todo o interesse em que possamos
pagar a dívida ( o que implica juros razoáveis e responsabilização da Internacional especulativa), em vez de nos encurralarem para uma ruptura de consequências
imprevisíveis, ou para uma solução à islandesa.
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