A alegoria da Caverna (http://3.bp.blogspot.com) |
“Na
imaginação e no pensamento míticos não
encontramos confissões individuais. O Mito é uma objectivação da
experiência social do homem, não da sua experiência individual. É verdade que
num tempo posterior aparecem mitos criados por indivíduos, como, por exemplo,
os famosos mitos platónicos. Mas aqui falta um dos aspectos mais essenciais dos
mitos genuínos. Platão criou-os num espírito inteiramente livre; não estava sob
o seu poder, dirigiu-os de acordo com os seus próprios fins: os fins do
pensamento dialéctico e ético. O mito genuíno não possui esta liberdade
filosófica; porque as imagens nas quais vive não são conhecidas como imagens. Não são olhadas
como símbolos, mas como realidades.”
“The myth of the State” (Ernst Cassirer)
É por isso que a lógica
dos mitos genuínos, na perspectiva freudiana, tem de ser decifrada. Haveria
nela a mesma relação entre a sintaxe ou as peripécias da narração e os fenómenos
sociais que aquela que existe entre um sintoma e a histeria, por exemplo. Essa
correspondência pode parecer-nos arbitrária e, na verdade, não pode ser
provada. Mas o que importa é que o mito, ou a explicação do mito funcionem.
Porque, tal como na
política, em psicologia tudo o que parece é. Pergunto-me o que será preciso
para algumas das nossas crenças de homens modernos, aparentemente mais
racionalmente fundamentadas, passarem a ser vistas como mitos.
A nossa “inter-subjectividade”
depende da maior ou menor opacidade dos mitos, mas a lei da espécie é a duma
permanente desmitificação, seguida dum novo mito.
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