domingo, 10 de abril de 2011

A ÁRVORE DA CIÊNCIA

(Bertrand Russell)


“Do ponto de vista biológico é uma desgraça que o aspecto destrutivo da técnica tenha avançado tão mais rapidamente que o aspecto criativo. Em poucos segundos o homem pode matar 500 mil pessoas, mas não pode ter tantos filhos tão rapidamente quanto na época dos nossos antepassados selvagens. Se uma pessoa pudesse ter 500 mil filhos tão rapidamente quanto a bomba atómica pode destruir outros tantos inimigos, poderíamos, ao custo de enorme sofrimento, deixar o problema biológico à luta pela existência do mais apto. Mas no mundo moderno não mais se pode confiar no velho mecanismo de evolução.”

“Conferências Reith: A autoridade e o indivíduo” (Bertrand Russell)




A bomba atómica veio levantar o problema da nossa sobrevivência em termos biológicos, como nunca se tinha levantado fora dos grandes textos religiosos e, neste caso, sempre associado a um castigo divino.

Pela primeira vez, a extinção da espécie pode ser atribuída ao homem, graças ao poder da técnica. Dada a influência da simbologia religiosa, também isso foi associado à culpa dos homens.

Mas o desenvolvimento da técnica, que é uma consequência do progresso do conhecimento, não pode ser considerado uma decisão humana. Está tão pouco nas nossas mãos deter esse processo como esteve nas do Neandertal ceder o passo ao Homo Sapiens.

É verdade que podemos imaginar uma moratória sobre, por exemplo, o nuclear ou, como nos anos setenta, a ideia do Crescimento Zero. Mas a técnica é um poder que obedece a leis próprias, como a água obedece à mecânica dos fluidos. Vai até o fim, se um “milagre” não se interpuser.

Mas claro que não só na Natureza assistimos a mudanças de agulha no desenvolvimento das espécies. Algumas experiências do século XX estão aí para o demonstrar. Mas na técnica essas revoluções fazem-se sempre no sentido de maior poder.

E temos aqui mais uma imagem bíblica: a irreversibilidade do acto adâmico de comer da árvore do conhecimento.


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