(Bertrand Russell) |
“Do
ponto de vista biológico é uma desgraça que o aspecto destrutivo da técnica
tenha avançado tão mais rapidamente que o aspecto criativo. Em poucos segundos
o homem pode matar 500 mil pessoas, mas não pode ter tantos filhos tão
rapidamente quanto na época dos nossos antepassados selvagens. Se uma pessoa
pudesse ter 500 mil filhos tão rapidamente quanto a bomba atómica pode destruir
outros tantos inimigos, poderíamos, ao custo de enorme sofrimento, deixar o
problema biológico à luta pela existência do mais apto. Mas no mundo moderno
não mais se pode confiar no velho mecanismo de evolução.”
“Conferências
Reith: A autoridade e o indivíduo” (Bertrand Russell)
A bomba atómica veio
levantar o problema da nossa sobrevivência em termos biológicos, como nunca se
tinha levantado fora dos grandes textos religiosos e, neste caso, sempre
associado a um castigo divino.
Pela primeira vez, a
extinção da espécie pode ser atribuída ao homem, graças ao poder da técnica.
Dada a influência da simbologia religiosa, também isso foi associado à culpa
dos homens.
Mas o desenvolvimento
da técnica, que é uma consequência do progresso do conhecimento, não pode ser
considerado uma decisão humana. Está tão pouco nas nossas mãos deter esse
processo como esteve nas do Neandertal ceder o passo ao Homo Sapiens.
É verdade que podemos
imaginar uma moratória sobre, por exemplo, o nuclear ou, como nos anos setenta,
a ideia do Crescimento Zero. Mas a técnica é um poder que obedece a leis
próprias, como a água obedece à mecânica dos fluidos. Vai até o fim, se um “milagre”
não se interpuser.
Mas claro que não só
na Natureza assistimos a mudanças de agulha no desenvolvimento das espécies. Algumas
experiências do século XX estão aí para o demonstrar. Mas na técnica essas
revoluções fazem-se sempre no sentido de maior poder.
E temos aqui mais uma
imagem bíblica: a irreversibilidade do acto adâmico de comer da árvore do
conhecimento.
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