terça-feira, 8 de março de 2011

A VONTADE DE SER




“A Vontade diz à Memória o que é de reter e o que é de esquecer, diz ao Intelecto o que escolher para a sua compreensão. Memória e Intelecto são ambos contemplativos e, como tal, passivos; é a Vontade que os faz funcionar e que eventualmente os ‘liga uma ao outro’. E só quando, em virtude de um deles, nomeadamente a Vontade, os três são ‘obrigados a tornarem-se um’, podemos falar em pensamento’ – a cogitatio, que Agostinho, jogando com a etimologia, faz derivar de cogere (coactum), forçar a junção, unir à força.”



“The Thracian Maid and the Professional Thinker” (Jacques Taminiaux)




Agostinho, na sua análise da vontade, ter-se-á inspirado no mistério teológico da Trindade. “Para Agostinho, o misterioso Três-em-um devia encontrar-se algures na natureza humana, visto que Deus criou o homem à sua imagem.(Hanna Arendt)

Porque Agostinho era cristão e aderia ao dogma da Trindade, a primeira tentativa de esclarecer filosoficamente o fenómeno da vontade, procurou a tríade e não, como era natural, apenas a dualidade entre o corpo e o espírito, muito menos profícua para o desenvolvimento da questão.

Já Platão usara a tríade na ideia das partes da alma. Esta não é só composta pelo alto ( a cabeça, o nous) e pelo baixo ( o ventre, a épithymia ), mas entre ambos medeia o coração (tymos). 

Que a vontade é o princípio activo confirma-o a sabedoria popular. Porque num homem sem vontade de viver, mirram tanto a memória como o intelecto. Mas Agostinho vai mais longe e diz que sem a vontade nem sequer pensamos.
 

Porque pensar não é assistir, como espectador, ao filme que passa na nossa cabeça. Só quando julgamos e decidimos, a maior parte das vezes sem nos darmos conta disso, é que pensamos. Ou seja, o pensamento não é passivo, e começa por ser afirmativo em relação à vida.

0 comentários: