“A
Vontade diz à Memória o que é de reter e o que é de esquecer, diz ao Intelecto
o que escolher para a sua compreensão. Memória e Intelecto são ambos
contemplativos e, como tal, passivos; é a Vontade que os faz funcionar e que
eventualmente os ‘liga uma ao outro’. E só quando, em virtude de um deles,
nomeadamente a Vontade, os três são ‘obrigados a tornarem-se um’, podemos falar
em pensamento’ – a cogitatio, que Agostinho, jogando com a
etimologia, faz derivar de cogere
(coactum), forçar a junção, unir à força.”
“The Thracian
Maid and the Professional Thinker” (Jacques Taminiaux)
Agostinho, na sua
análise da vontade, ter-se-á inspirado no mistério teológico da Trindade. “Para
Agostinho, o misterioso Três-em-um devia encontrar-se algures na natureza
humana, visto que Deus criou o homem à sua imagem.” (Hanna Arendt)
Porque Agostinho era
cristão e aderia ao dogma da Trindade, a primeira tentativa de esclarecer
filosoficamente o fenómeno da vontade, procurou a tríade e não, como era
natural, apenas a dualidade entre o corpo e o espírito, muito menos profícua
para o desenvolvimento da questão.
Já Platão usara a
tríade na ideia das partes da alma. Esta não é só composta pelo alto ( a cabeça,
o nous)
e pelo baixo ( o ventre, a épithymia ),
mas entre ambos medeia o coração (tymos).
Que a vontade é o
princípio activo confirma-o a sabedoria popular. Porque num homem sem vontade
de viver, mirram tanto a memória como o intelecto. Mas Agostinho vai mais longe
e diz que sem a vontade nem sequer pensamos.
Porque pensar não é
assistir, como espectador, ao filme que passa na nossa cabeça. Só quando julgamos
e decidimos, a maior parte das vezes sem nos darmos conta disso, é que
pensamos. Ou seja, o pensamento não é passivo, e começa por ser afirmativo em
relação à vida.
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