quinta-feira, 10 de março de 2011

A "INCOERÊNCIA" DE ZEUS

Zeus e Tétis (Ingres)



“Zeus não é nunca desajeitado, pela única razão de não fazer questão em se manter digno. ‘Non bene conveniunt nec in una sede morantur Maiestas et amor.’(Ovídio)”


Roberto Calasso (“Les noces de Cadmos et Harmonie”)



Contudo, vemos que Ingres, quando pintou a mãe de Aquiles intercedendo pelo filho e tocando os joelhos do Senhor do Olimpo, representou este em toda a sua majestade.

E é o mesmo deus que se “rebaixa” ao carnaval dos animais, disfarçando-se de touro ou de cisne, quando não, deixando o reino animal, se materializa em ouro como na história de Danaé.

É como se o amor fizesse parte da necessidade, a que deuses e homens  se têm de submeter, de tal modo que o Supremo, ao perseguir uma mortal, abandona, como uma criança traquinas, o seu papel oficial para se entregar à mais feliz das irresponsabilidades.

A dignidade de Zeus no seu trono não é afectada por estas escapadas amorosas, porque ele assume a metamorfose sem nenhum vestígio de culpa.
O politeísmo decerto correspondia a uma outra estrutura do ego.

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