sábado, 5 de março de 2011

IMITAR A ACÇÃO

Teatro de Dodoni


“(…) o ponto decisivo é que a tragédia não lida com as qualidades dos homens, a sua poiotes, mas com o que acontece com as suas acções e a sua vida, com a boa ou má sorte. (…) O conteúdo da tragédia não é o que poderíamos chamar de carácter mas a acção ou o enredo.”

(Hannah Arendt, citada por Jacques Taminiaux in “The Thracian Maid and the Professional Thinker”)



Analisando o drama, entre os Gregos, a partir da “Poética” de Aristóteles, Arendt diz que o teatro é a arte política por excelência e que, ao imitarem a acção dos heróis, repetindo o que está escrito, os actores veiculam o significado “não tanto da história em si, mas dos heróis que nela se revelam.” Enquanto que ao coro caberia a exposição do significado directo e universal do enredo da peça.

Os homens não podem representar-se a própria acção (as relações de uns com os outros) a não ser no teatro. Mas vemos que nem a psicologia nem a personalidade parecem representar aqui qualquer papel.

Por um lado, o coro extrai a “moral” da história, em que a necessidade faz sempre valer os seus direitos. Por outro, ao nível das personagens, os actores são mais funções do que indivíduos e qualquer um pode envergar a máscara. Aqui, é a ignorância e o acaso que prevalecem. O herói não sabe “com que linhas se cose”, nem como defender-se do erro que fará precipitar a tragédia. Esta situação, mediada por palavras e actos, é a fonte das histórias.

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