“Falando
no Vaticano, em Janeiro de 1992, Yakovlev (*) continuou: ‘um radicalismo consistente
nos primeiros anos da perestroika teria destruído a própria ideia
de reforma abrangente. As máquinas do partido e do estado, incluindo a burocracia
económica e (não em último lugar) os órgãos de repressão, ter-se-iam amotinado
e ‘atirado o país de volta aos piores tempos do Stalinismo’; já foi observado –
e não sem razão – que Gorbachev, como chefe do PCUS e como tal guardião da
sagrada escritura do Marxismo-Leninismo e, enquanto líder de um movimento de
reforma disposto a questionar muito da doutrina, se encontrava na
desconfortável posição de ser simultaneamente o Papa e Lutero.”
(*)
Alexander Yakovlev, político e historiador soviético, inspirador da ideia da Glasnost.
“The
Gorbachev Factor” (Archie Brown)
A “espantosa finesse”
de Gorbachev, nos primeiros tempos da reforma, para não hostilizar a “velha
Mafia do apparat do Partido” (Boris
Yeltsin), não foi hipócrita, mesmo se ele tivesse confessado em privado as suas
convicções a favor da social-democracia. É que, quando começou, ainda com a
ilusão de poder reformar o sistema, acreditava seguir as pisadas de Nikita Kruschev,
e tirar as consequências da sua
denúncia, denúncia que, nos “anos de estagnação” de Brejnev e a seguir, teve de
hibernar por duas longas décadas. O Marxismo-Leninismo não estava de todo em
causa, como não estava, e nem seria preciso dizê-lo, a integridade nacional.
Todas essas ilusões,
para além da situação insustentável na cúpula partidária, com os funerais da
gerontocracia sucedendo-se quase todos
os anos, ajudaram Gorbachev a introduzir no Kremlin o seu “cavalo de Tróia”
(que ainda não tinha esse nome).
Foi uma surpresa
universal, e sobretudo para os kremlinólogos ocidentais, que a fortaleza viesse
abaixo por causa de duas ou três palavras novas.
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