sexta-feira, 4 de março de 2011

O APRENDIZ DE FEITICEIRO




“Falando no Vaticano, em Janeiro de 1992, Yakovlev (*) continuou: ‘um radicalismo consistente nos primeiros anos da perestroika teria destruído a própria ideia de reforma abrangente. As máquinas do partido e do estado, incluindo a burocracia económica e (não em último lugar) os órgãos de repressão, ter-se-iam amotinado e ‘atirado o país de volta aos piores tempos do Stalinismo’; já foi observado – e não sem razão – que Gorbachev, como chefe do PCUS e como tal guardião da sagrada escritura do Marxismo-Leninismo e, enquanto líder de um movimento de reforma disposto a questionar muito da doutrina, se encontrava na desconfortável posição de ser simultaneamente o Papa e Lutero.”

(*) Alexander Yakovlev, político e historiador soviético, inspirador da ideia da Glasnost.


“The Gorbachev Factor” (Archie Brown)



A “espantosa finesse” de Gorbachev, nos primeiros tempos da reforma, para não hostilizar a “velha Mafia do apparat do Partido” (Boris Yeltsin), não foi hipócrita, mesmo se ele tivesse confessado em privado as suas convicções a favor da social-democracia. É que, quando começou, ainda com a ilusão de poder reformar o sistema, acreditava seguir as pisadas de Nikita Kruschev,  e tirar as consequências da sua denúncia, denúncia que, nos “anos de estagnação” de Brejnev e a seguir, teve de hibernar por duas longas décadas. O Marxismo-Leninismo não estava de todo em causa, como não estava, e nem seria preciso dizê-lo, a integridade nacional.

Todas essas ilusões, para além da situação insustentável na cúpula partidária, com os funerais da gerontocracia sucedendo-se  quase todos os anos, ajudaram Gorbachev a introduzir no Kremlin o seu “cavalo de Tróia” (que ainda não tinha esse nome).

Foi uma surpresa universal, e sobretudo para os kremlinólogos ocidentais, que a fortaleza viesse abaixo por causa de duas ou três palavras novas.

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