A inocência do mensageiro em "The
go-between"(1970) de Joseph Losey. O texto é uma adaptação de Pinter do
romance de L. P. Hartley e releva o momento em que o mensageiro (Mercúrio, como
lhe chama Hugh Trimingham) recusa essa inocência. No fim da época victoriana,
Leo, um rapaz de 12 anos em férias campestres junto duma família aristocrata, quer saber o que realmente significam os bilhetes trocados entre
Lady Trimingham, prometida de Hugh, e o rendeiro Ted Burgess. Qual é o segredo, "para lá do
beijo", aquilo a que Ted, reconhecendo a falta de propriedade, chama de
"spoony" (lamechice). Esse é o ponto crítico que anuncia a iminente
desqualificação para o papel do mensageiro. Aquilo, precisamente, que ele
quer saber é o que impediria os amantes, depois, de recorrerem a ele. Como se o
amor não suportasse a perda das ilusōes duma criança.
Mas Losey dá um outro desfecho ao filme. O velho
senhor que visita o Hall, umas décadas depois, foi
ferido por essa abordagem do amor e nunca conheceu uma mulher. Não sabemos se o
que o traz ali é o apelo da infância e a experiência que é motivo da sua
"regressão" ou, naquele contexto marcadamente classista, a ilusão dum
corredor entre os antagonismos sociais que a figura de Mercúrio, servindo
deuses e mortais sem partilhar as suas emoções, poderia representar.
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