domingo, 27 de março de 2011

O ABSURDO DA CULPA

Giuseppe Cesari-Adam and Eve expelled from Paradise


“O sacrifício é a máquina cósmica que eleva a vida culposa à consciência.

(Roberto Calasso)



Que culpa é a de Édipo, se fez tudo para que a profecia se não cumprisse, contribuindo assim, por ironia do destino, para cair no laço da necessidade? Quando sabe que, apesar dos seus esforços, acabou por cometer esses crimes, ele assume-os, e castiga-se por isso. Nada de mais incompreensível para a mentalidade moderna.

Contudo, na etapa seguinte, com o Cristianismo, deparamos com a mesma ideia, disfarçada sob o fenómeno da culpa subjectiva. O que nos alerta para isso é a espantosa desproporção entre a causa e as consequências. Cedendo à tentação da serpente, a desobediência de Adão e Eva, no Génesis, é um acto que não pode explicar os desastres  e a maldição que se seguem, de geração em geração.

As ondas de choque daquela dentada na maçã fazem lembrar a teoria das catástrofes. Estão tão fora da escala que somos obrigados a pensar que, tal como aconteceu com Édipo, o primeiro casal de humanos, segundo a Bíblia, sentiu-se merecedor da condenação eterna, independentemente da sua responsabilidade pessoal (à luz dos nossos conceitos).

Que culpa, então, é esta que o “sacrifício traz à consciência”? Kafka tem uma “explicação”. É que, segundo o seu famoso absurdo, a Lei torna-nos a todos culpados.

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