Giuseppe Cesari-Adam and Eve expelled from | Paradise |
“O
sacrifício é a máquina cósmica que eleva a vida culposa à consciência.”
(Roberto
Calasso)
Que culpa é a de
Édipo, se fez tudo para que a profecia se não cumprisse, contribuindo assim,
por ironia do destino, para cair no laço da necessidade? Quando sabe que, apesar
dos seus esforços, acabou por cometer esses crimes, ele assume-os, e castiga-se
por isso. Nada de mais incompreensível para a mentalidade moderna.
Contudo, na etapa
seguinte, com o Cristianismo, deparamos com a mesma ideia, disfarçada sob o
fenómeno da culpa subjectiva. O que nos alerta para isso é a espantosa
desproporção entre a causa e as consequências. Cedendo à tentação da serpente,
a desobediência de Adão e Eva, no Génesis, é um acto que não pode explicar os
desastres e a maldição que se seguem, de
geração em geração.
As ondas de choque daquela
dentada na maçã fazem lembrar a teoria das catástrofes. Estão tão fora da
escala que somos obrigados a pensar que, tal como aconteceu com Édipo, o
primeiro casal de humanos, segundo a Bíblia, sentiu-se merecedor da condenação
eterna, independentemente da sua responsabilidade pessoal (à luz dos nossos
conceitos).
Que culpa, então, é
esta que o “sacrifício traz à consciência”? Kafka tem uma “explicação”. É que,
segundo o seu famoso absurdo, a Lei torna-nos a todos culpados.
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