“A
auto-observação é então menos arbitrária e menos informativa do que a
observação estranha, o que não deixará de ser significativo para a semântica
própria do ‘Estado’. Ela é menos arbitrária na medida em que utiliza as
operações do sistema para a própria observação, e não pode por isso dispor à
vontade das suas condições de mobilização. (…) Um observador estranho, pelo
contrário, poderá perfilar tais sistema a partir do que neles está latente,
quer dizer, por exemplo, observá-los sob o ângulo do esquema
consciente-inconsciente ou ainda comunicável-incomunicável. Neste caso, tem de
compensar-se a perda de certeza por um ganho de informação – o que é o problema
de todas as críticas da ideologia, dos psicoterapeutas e outra gente da mesma
espécie.”
“Politique et
complexité” (Niklas Luhmann)
A convicção dos
políticos não é prejudicada quando eles entram em contradição com afirmações suas
produzidas antes (“só os burros é que não mudam”, disse um
mestre), tal como o não é a solidariedade dos seus camaradas de partido. É um
caso de auto-observação dum sistema social e, como diz Luhmann, o que é
distintivo da auto-observação não é um “acesso
privilegiado a fontes de informação particulares”, mas o facto do “Si” não
ser substituível. Isto é, ninguém, nem nenhum outro partido pode colocar-se no
lugar dum partido para “saber”.
Quanto aos que estão “de
fora” do sistema partidário (mas quase sempre dentro dum outro sub-sistema),
eles podem ganhar em informação o que perdem em certeza. Por isso, um partido é
uma máquina para a acção política em grande parte por ser incapaz duma
verdadeira crítica. A acção é selectiva da informação e a informação a mais é
contra-producente.
No caso da presente
crise portuguesa, não encontramos a crítica nem no partido do governo nem nos
partidos da oposição. Tudo se processa numa lógica maníaca e para dentro de
cada grupo.
Os observadores “estranhos”,
esses, bem podem esgrimir os dados económicos da crise que não há comunicação
que os faça chegar aos sistemas infectados.
Precisávamos todos de
fazer um estágio em Sírius.
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