sexta-feira, 25 de março de 2011

A OBSERVAÇÃO DO UMBIGO




“A auto-observação é então menos arbitrária e menos informativa do que a observação estranha, o que não deixará de ser significativo para a semântica própria do ‘Estado’. Ela é menos arbitrária na medida em que utiliza as operações do sistema para a própria observação, e não pode por isso dispor à vontade das suas condições de mobilização. (…) Um observador estranho, pelo contrário, poderá perfilar tais sistema a partir do que neles está latente, quer dizer, por exemplo, observá-los sob o ângulo do esquema consciente-inconsciente ou ainda comunicável-incomunicável. Neste caso, tem de compensar-se a perda de certeza por um ganho de informação – o que é o problema de todas as críticas da ideologia, dos psicoterapeutas e outra gente da mesma espécie.”


“Politique et complexité” (Niklas Luhmann)




A convicção dos políticos não é prejudicada quando eles entram em contradição com afirmações suas produzidas antes (“só os burros é que não mudam”, disse um mestre), tal como o não é a solidariedade dos seus camaradas de partido. É um caso de auto-observação dum sistema social e, como diz Luhmann, o que é distintivo da auto-observação não é um “acesso privilegiado a fontes de informação particulares”, mas o facto do “Si” não ser substituível. Isto é, ninguém, nem nenhum outro partido pode colocar-se no lugar dum partido para “saber”.

Quanto aos que estão “de fora” do sistema partidário (mas quase sempre dentro dum outro sub-sistema), eles podem ganhar em informação o que perdem em certeza. Por isso, um partido é uma máquina para a acção política em grande parte por ser incapaz duma verdadeira crítica. A acção é selectiva da informação e a informação a mais é contra-producente.  

No caso da presente crise portuguesa, não encontramos a crítica nem no partido do governo nem nos partidos da oposição. Tudo se processa numa lógica maníaca e para dentro de cada grupo.

Os observadores “estranhos”, esses, bem podem esgrimir os dados económicos da crise que não há comunicação que os faça chegar aos sistemas infectados.

Precisávamos todos de fazer um estágio em Sírius.

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