sexta-feira, 11 de março de 2011

O QUE NÃO PODE DEIXAR TRAÇO


Fiama (1938/2007)


“(…) porque há tanto tempo suspeito
de que a tua presença, agora insubstancial
não caberia nunca na memória.”

(Fiama Hasse Pais Brandão)



Não poderíamos aplicar aos vivos a mesma sabedoria porque há por de mais e demasiado evidentes provas contra esse pensamento. Provas que, na verdade, provam demasiado.

O mundo que criamos em conjunto, na palavra e na acção, é imperativo e urgente. O que não cabe nele (o que na realidade somos) não nos serviria para a vida em comum.

Mas a suspeita do poeta não pode privilegiar os mortos. Toda a ausência é já uma presença que “não cabe na memória”. O mundo não deve impedir-nos de, em momentos, o olharmos como uma coisa distante.

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