“No
sistema medieval não havia lugar para o
racionalismo moderno, a tendência do pensamento que encontramos em Descartes,
Spinoza, Leibniz, ou nos ‘filósofos’ do século dezoito. Nenhum pensador
escolástico alguma vez seriamente duvidou da absoluta superioridade da verdade revelada.”
“The myth of the State” (Ernst Cassirer)
Para os escolásticos,
“a Razão não pode ser a sua própria luz.”
E Agostinho, citando Isaías, não diz outra coisa: “Se não acreditardes, não compreendereis.”
Kant não pôs todos os
pontos nos ii, porque a seguir a ele, o “racionalismo moderno” atingiu o estado
de absoluta independência, com Hegel.
É verdade que a
situação de hoje não é essa. Compreendemos que os interesses (os vitais, os
psicológicos, para não falar dos económicos) “subsidiam”, por detrás da
cortina, a deusa aparentemente despreocupada e isenta, e até o seu pedestal.
Convivemos com doutrinas que reconhecem a promiscuidade entre os interesses e a
razão, como a das garantias de objectividade jornalística, ou a velha
interdição de ser juiz em causa própria, mas em relação à Ciência, por exemplo,
continuamos a idealizar as suas “condições de produção”, aceitando como prova
suficiente a sua eficácia técnica.
Nesse sentido, a
verdade “revelada”, em última análise, um texto sacralizado, mas conhecido,
estava mais adiantada.
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