sábado, 26 de março de 2011

O REVELADO E O OCULTO



“No sistema medieval não havia lugar  para o racionalismo moderno, a tendência do pensamento que encontramos em Descartes, Spinoza, Leibniz, ou nos ‘filósofos’ do século dezoito. Nenhum pensador escolástico alguma vez seriamente duvidou da absoluta superioridade da verdade revelada.”

“The myth of the State” (Ernst Cassirer)



Para os escolásticos, “a Razão não pode ser a sua própria luz.” E Agostinho, citando Isaías, não diz outra coisa: “Se não acreditardes, não compreendereis.”

Kant não pôs todos os pontos nos ii, porque a seguir a ele, o “racionalismo moderno” atingiu o estado de absoluta independência, com Hegel.

É verdade que a situação de hoje não é essa. Compreendemos que os interesses (os vitais, os psicológicos, para não falar dos económicos) “subsidiam”, por detrás da cortina, a deusa aparentemente despreocupada e isenta, e até o seu pedestal. Convivemos com doutrinas que reconhecem a promiscuidade entre os interesses e a razão, como a das garantias de objectividade jornalística, ou a velha interdição de ser juiz em causa própria, mas em relação à Ciência, por exemplo, continuamos a idealizar as suas “condições de produção”, aceitando como prova suficiente a sua eficácia técnica.

Nesse sentido, a verdade “revelada”, em última análise, um texto sacralizado, mas conhecido, estava mais adiantada.

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