“No
seu memorando de 1985, Yakovlev sugeria que um dos partidos se chamasse Partido
Socialista e o outro Partido Democrático do Povo e que ambos fizessem parte de
uma espécie de frente popular denominada União de Comunistas. (…) Mas a
proposta, embora impraticável, era entendida como uma reforma política muito
mais séria do que isso. Eleições, as quais Yakovlev tencionava que fossem
genuinamente disputadas, deveriam ter lugar de 5 em 5 anos
(…).
“The Gorbachev Factor”
(Archie Brown)
O principal
conselheiro de Gorbachev recomendava, logo no início do mandato do
Secretário-Geral, a divisão do partido, com eleições, introduzindo, assim, “um significativo elemento de pluralismo
político.”
A resposta de
Gorbachev foi oral. Sem se mostrar escandalizado, rejeitou a proposta de
Yakovlev com a palavra “Rano” (cedo de mais). Brown diz que em 1990, o contexto
político tinha mudado dramaticamente e “então,
Gorbachev podia e quase certamente deveria ter corrido o risco de fragmentar o
partido, cujas profundas divisões ideológicas, nos poucos anos precedentes, se
tinham escancarado, em vez de forrar com papel as fissuras”.
Dizia-se há alguns
anos que a Revolução era um comboio que passava e que dependia de nós tomá-lo a
tempo ou perdê-lo, talvez para sempre. Mas geralmente as oportunidades “agarradas
pelos cabelos” não correspondem a situações maduras e revelam-se oportunidades
sim, mas para outra coisa diferente do que pensávamos.
Gorbachev raras vezes
deixou de aproveitar as brechas que o sistema lhe foi abrindo. Perdeu, talvez,
a oportunidade de 1990 e ficou sem iniciativa, como se viu. O “comboio” tinha-o
levado para onde ele não queria. Por isso o Gorbachev post-URSS nos dá a ideia
de Tintin desembarcado na Lua. O mundo terá ficado melhor, mas umas das figuras
mais importantes do século ainda se encontra na antecâmara da História à espera
de julgamento.
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