http://spe.fotolog.com |
“As
partes eslavas da União Soviética tinham dos mais altos níveis de consumo de
álcool no mundo e a situação tinha-se tornado pior durante os anos Brejnev. De
facto, apesar dos periódicos esforços de propaganda para avisar dos perigos de
beber em excesso, não seria ir demasiado longe dizer que para Brejnev o álcool
era um analgésico muito conveniente para os males da sociedade soviética, um
substituto da reforma e um contribuinte vital para o tesoureiro soviético. Uma
vez que o estado detinha o monopólio da manufactura das bebidas alcoólicas e
podia fixar os preços, os quais incluíam, efectivamente, um elemento de taxação
muito elevado, era causa duma enorme contribuição para o orçamento soviético (*).”
“The Gorbachev Factor” (Archie Brown)
(*)“Em
1979, 23 biliões de rublos foram pagos em impostos sobre o rendimento e alguns
65 biliões de impostos sobre o consumo. Dos últimos, as bebidas alcoólicas
representavam 25,4 biliões de rublos. Os impostos indirectos sobre o álcool
davam mais do que todos os impostos sobre o rendimento.”
(Daniel
Tarschys, citado por Archie Brown)
Sem dúvida que o
alcoolismo está ligado a outros factores, culturais e climáticos, e talvez só
em pequena parte possa ser imputado ao escapismo político ou servir de “substituto
da reforma”.
É de supor que se a
economia funcionasse normalmente, ou ao nível do armamento e da corrida
espacial, os russos continuariam a desafiar toda a propaganda virtuosa. As
vítimas voluntárias do álcool ocupam o proscénio nos romances de Dostoiewski,
por exemplo, romances em que ser abstémio é o primeiro estádio da oposição política
ou da revolta contra a sociedade. Lubitsch, em “To be or not to be”, faz troça
da abstinência de Hitler e da sua cartilha vegetariana. Mas esse era o sinal de
que o “revolucionário” não se tinha ainda acomodado ao poder.
A propósito destes
dois povos, apetece dizer que nem sempre a virtude serve a causa da justiça,
nem o vício necessariamente a entrava. O culto da disciplina e a obediência,
que podemos considerar, até certo ponto, virtudes, escravizou o povo alemão, e
a sua ditadura semeou a destruição pela Europa. O vodka, em comparação foi
muito mais pacífico, se descontarmos o sofrimento auto-infligido e as suas consequências
sobre a própria demografia.
O fatalismo não faz
parte da essência de nenhuma bebida, mas o fatalista encontra nela o maior
aliado para a sua doença: a de não querer pensar.
0 comentários:
Enviar um comentário