domingo, 13 de março de 2011

A POLÍTICA DO ÁLCOOL

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“As partes eslavas da União Soviética tinham dos mais altos níveis de consumo de álcool no mundo e a situação tinha-se tornado pior durante os anos Brejnev. De facto, apesar dos periódicos esforços de propaganda para avisar dos perigos de beber em excesso, não seria ir demasiado longe dizer que para Brejnev o álcool era um analgésico muito conveniente para os males da sociedade soviética, um substituto da reforma e um contribuinte vital para o tesoureiro soviético. Uma vez que o estado detinha o monopólio da manufactura das bebidas alcoólicas e podia fixar os preços, os quais incluíam, efectivamente, um elemento de taxação muito elevado, era causa duma enorme contribuição para o orçamento soviético (*).”

“The Gorbachev Factor” (Archie Brown)


(*)“Em 1979, 23 biliões de rublos foram pagos em impostos sobre o rendimento e alguns 65 biliões de impostos sobre o consumo. Dos últimos, as bebidas alcoólicas representavam 25,4 biliões de rublos. Os impostos indirectos sobre o álcool davam mais do que todos os impostos sobre o rendimento.”

(Daniel Tarschys, citado por Archie Brown)



Sem dúvida que o alcoolismo está ligado a outros factores, culturais e climáticos, e talvez só em pequena parte possa ser imputado ao escapismo político ou servir de “substituto da reforma”.

É de supor que se a economia funcionasse normalmente, ou ao nível do armamento e da corrida espacial, os russos continuariam a desafiar toda a propaganda virtuosa. As vítimas voluntárias do álcool ocupam o proscénio nos romances de Dostoiewski, por exemplo, romances em que ser abstémio é o primeiro estádio da oposição política ou da revolta contra a sociedade. Lubitsch, em “To be or not to be”, faz troça da abstinência de Hitler e da sua cartilha vegetariana. Mas esse era o sinal de que o “revolucionário” não se tinha ainda acomodado ao poder.

A propósito destes dois povos, apetece dizer que nem sempre a virtude serve a causa da justiça, nem o vício necessariamente a entrava. O culto da disciplina e a obediência, que podemos considerar, até certo ponto, virtudes, escravizou o povo alemão, e a sua ditadura semeou a destruição pela Europa. O vodka, em comparação foi muito mais pacífico, se descontarmos o sofrimento auto-infligido e as suas consequências  sobre a própria demografia.

O fatalismo não faz parte da essência de nenhuma bebida, mas o fatalista encontra nela o maior aliado para a sua doença: a de não querer pensar.

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