domingo, 20 de março de 2011

SABEDORIA RÚSTICA

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“Mas, eu, Fedro, penso que essas explicações são em geral muito bonitas, mas são invenções dum homem muito esperto e laborioso mas de nenhum modo invejável, só por uma razão é que ele precisará de explicar as formas dos Centauros e depois as da Quimera, então uma multidão de criaturas como essas se seguirão, Górgonas e Pégasus, e multidões de naturezas estranhas, inconcebíveis e portentosas. Se alguém não acreditar nisto, e com uma espécie de sabedoria rústica se der ao trabalho de explicar cada uma de acordo com a probabilidade, precisará de muito vagar. Mas eu não tenho nenhum vagar  para essas coisas; e a razão, meu amigo, é esta: eu ainda não sou capaz, tal como diz a inscrição délfica, de me conhecer a mim mesmo;”

“Fedro” (Platão)





O “conhece-te a ti mesmo”, a famosa divisa do oráculo de Delfos, ponto de partida dum recentramento no indivíduo que durou séculos, com a ideia cristã da salvação pessoal, bem vistas as coisas,  é tão estranha ao mundo moderno como o era para os contemporâneos de Sócrates.

Porque, não é verdade, o individualismo é outra coisa. Não pretendemos que o conhecimento de nós mesmos seja tão importante como conhecer os “Centauros” e as “Quimeras” de domínios tão diversos como a economia ou a Física Teórica.

Talvez isso seja assim porque, depois dos avanços das ciências sociais e reservado um lugar dentro de nós para a incerteza com sede no nosso “inconsciente”, pensamos ter esgotado o que havia para conhecer.

Se existisse uma nova Delfos com o seu oráculo, seríamos exortados, já não a conhecermo-nos a nós mesmos, mas a escolher o indivíduo que “queremos” ser.

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