A certa altura ambos
os protagonistas trocaram acusações em que palavra teatro foi proferida como
metáfora da má política.
Mas é evidente que a
política não pode escapar às leis do teatro quando há um público. No palco, as
palavras equivalem a actos e têm todas consequências para o desenvolvimento da
trama. Palavra que “ultrapassa a barreira
dos dentes”, como dizia Homero, não tem retorno. Nós temos outra expressão
que diz o mesmo, mas aplicada estocasticamente. O sentido do “pela boca morre o peixe” é que o peixe
pode acabar no anzol. Mas na política, como no teatro, um homem que anda
anunciar “do alto dos telhados” o que
vai fazer, mesmo que isso corresponda a cair abaixo do telhado ou a abrir a “caixa de Pandora”, fica preso à palavra,
sob pena de já não fazer parte do elenco da próxima peça.
É com o que dizem os
políticos, uns e outros, diante das câmaras que se escreve este outro auto
vicentino. A crise económica, os problemas do país que se amanham frente a esta
necessidade de falar, de replicar, de “tomar
posição” que move todos os actores. Porque a política é o reino da palavra,
e o teatro, mais do que pretório é o seu modelo.
O sonho dos
tecnocratas sempre foi o de despolitizar para dar lugar ao que consideram as decisões
racionais, mas com isso morreria a liberdade.
Que o diabo tome
então conta da economia, porque parece ser assim que as coisas funcionam.
Para se manter na
peça, o actor da oposição está disposto, a pretexto de nos poupar os
sacrifícios de mais um PEC, a encarregar o FMI de nos cobrar isso com língua de
palmo.
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