terça-feira, 22 de março de 2011

O TEATRO DENTRO DO TEATRO





A certa altura ambos os protagonistas trocaram acusações em que palavra teatro foi proferida como metáfora da má política.

Mas é evidente que a política não pode escapar às leis do teatro quando há um público. No palco, as palavras equivalem a actos e têm todas consequências para o desenvolvimento da trama. Palavra que “ultrapassa a barreira dos dentes”, como dizia Homero, não tem retorno. Nós temos outra expressão que diz o mesmo, mas aplicada estocasticamente. O sentido do “pela boca morre o peixe” é que o peixe pode acabar no anzol. Mas na política, como no teatro, um homem que anda anunciar “do alto dos telhados” o que vai fazer, mesmo que isso corresponda a cair abaixo do telhado ou a abrir a “caixa de Pandora”, fica preso à palavra, sob pena de já não fazer parte do elenco da próxima peça.

É com o que dizem os políticos, uns e outros, diante das câmaras que se escreve este outro auto vicentino. A crise económica, os problemas do país que se amanham frente a esta necessidade de falar, de replicar, de “tomar posição” que move todos os actores. Porque a política é o reino da palavra, e o teatro, mais do que pretório é o seu modelo.

O sonho dos tecnocratas sempre foi o de despolitizar para dar lugar ao que consideram as decisões racionais, mas com isso morreria a liberdade.

Que o diabo tome então conta da economia, porque parece ser assim que as coisas funcionam.

Para se manter na peça, o actor da oposição está disposto, a pretexto de nos poupar os sacrifícios de mais um PEC, a encarregar o FMI de nos cobrar isso com língua de palmo.

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