"Jurassic Park" |
“Um
novo vocabulário começou a dominar o pensamento acerca dos objectivos e
motivações dos homens. Um exemplo é o novo uso da palavra ‘racionalização’ que
apareceu no presente século. Acabou por significar a construção de explicações ‘racionais’
ou superficialmente plausíveis, que eram
apenas desculpas para acções ou crenças. Depressa se tornou uma etiqueta universal
para o hábito das pessoas justificarem o seu comportamento, não falando nos
seus motivos reais. Atacar qualquer coisa como uma ‘racionalização’ é uma
espécie de penicilina filosófica – um cura-tudo do leigo para argumentos que
não pode compreender ou não quer levar a sério. Sob a influência de Karl Marx,
nos Estados Unidos, como em todo o lado, as pessoas acabaram por achar que as
filosofias não eram mais do que cortinas de fumo para os interesses económicos.
Os nossos ideais, foi-nos dito, não eram outra coisa que reveladores duma burguesia
em retirada. Segismund Freud então forneceu um aparelho ainda mais subtil para
explicar por que é que as pessoas realmente não acreditavam nas razões que professavam.
Tudo isto queria dizer desconfiança nos ideais, e a seguir o seu declínio.”
“The Image”
(Daniel Boorstin)
A “racionalização”
aplicada no sentido que lhe dá Boorstin é também outra maneira de fazer uma
velha distinção entre a verdade e a aparência, distinção eminentemente
filosófica. Essa distinção é uma tentativa de simplificar o nosso mundo que é,
precisamente, um mundo de aparências.
O nosso mundo
tornou-se muito mais complexo do que a sociedade grega e, evidentemente, do que
a utopia platónica. Mas, não porque por detrás da aparência só possamos
encontrar outras aparências, mas sim porque a tarefa de lhe dar sentido é
incomensuravelmente mais difícil.
Os ideais têm a
consistência duma proa no mar dos fenómenos sociais. Se parece, como diz
Boorstin, que os trocámos por imagens, que são sintéticas e ambíguas, talvez
isso se deva a uma maior velocidade de interacção social, que exigirá esse
elemento de “design” e a fluidez da ambiguidade. Ao mesmo tempo, assistimos a
uma renovação do sentido do mundo que criámos.
Quando vemos o que
podem as novas ferramentas sociais, é todo um mundo em que se incluem os
partidos políticos que se tornam, de repente, um parque jurássico.
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