segunda-feira, 14 de março de 2011

PARQUE JURÁSSICO

"Jurassic Park"



“Um novo vocabulário começou a dominar o pensamento acerca dos objectivos e motivações dos homens. Um exemplo é o novo uso da palavra ‘racionalização’ que apareceu no presente século. Acabou por significar a construção de explicações ‘racionais’ ou superficialmente  plausíveis, que eram apenas desculpas para acções ou crenças. Depressa se tornou uma etiqueta universal para o hábito das pessoas justificarem o seu comportamento, não falando nos seus motivos reais. Atacar qualquer coisa como uma ‘racionalização’ é uma espécie de penicilina filosófica – um cura-tudo do leigo para argumentos que não pode compreender ou não quer levar a sério. Sob a influência de Karl Marx, nos Estados Unidos, como em todo o lado, as pessoas acabaram por achar que as filosofias não eram mais do que cortinas de fumo para os interesses económicos. Os nossos ideais, foi-nos dito, não eram outra coisa que reveladores duma burguesia em retirada. Segismund Freud então forneceu um aparelho ainda mais subtil para explicar por que é que as pessoas realmente não acreditavam nas razões que professavam. Tudo isto queria dizer desconfiança nos ideais, e a seguir o seu declínio.”


“The Image” (Daniel Boorstin)




A “racionalização” aplicada no sentido que lhe dá Boorstin é também outra maneira de fazer uma velha distinção entre a verdade e a aparência, distinção eminentemente filosófica. Essa distinção é uma tentativa de simplificar o nosso mundo que é, precisamente, um mundo de aparências.

O nosso mundo tornou-se muito mais complexo do que a sociedade grega e, evidentemente, do que a utopia platónica. Mas, não porque por detrás da aparência só possamos encontrar outras aparências, mas sim porque a tarefa de lhe dar sentido é incomensuravelmente mais difícil.

Os ideais têm a consistência duma proa no mar dos fenómenos sociais. Se parece, como diz Boorstin, que os trocámos por imagens, que são sintéticas e ambíguas, talvez isso se deva a uma maior velocidade de interacção social, que exigirá esse elemento de “design” e a fluidez da ambiguidade. Ao mesmo tempo, assistimos a uma renovação do sentido do mundo que criámos.

Quando vemos o que podem as novas ferramentas sociais, é todo um mundo em que se incluem os partidos políticos que se tornam, de repente, um parque jurássico.

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