segunda-feira, 7 de março de 2011

DAS SCHLOSS




Michael Haneke filmou “O Castelo” de Kafka (1997) de forma exemplar e terminou-o no mesmo ponto em que o escritor interrompeu a sua narrativa.

O agrimensor K entrou no labirinto mas, apesar de todos os seus esforços, nem sequer conseguiu chegar à fala com  o mais modesto dos funcionários do Conde.  Não alcançou mais do que abordar um dos secretários de um tal Klamm.

O castelo é, em altura, o centro vazio de que fala Barthes (L’Empire des Signes):”A cidade de que falo (Tóquio) apresenta este paradoxo precioso: ela de facto possui um centro mas este centro está vazio. Toda a cidade gira em volta dum lugar ao mesmo tempo interdito e indiferente, residência mascarada pela verdura, interdita por fossos de água, habitada por um imperador que nunca se vê, quer dizer, à letra, por não se sabe quem.”
 
O poder é invisível como uma disciplina interior na cabeça dos aldeãos. Que espécie de audiência procurava K.? Esses todo-poderosos burocratas descem à aldeia,  embuçados, só para exercer sobre as mulheres (as criadas da estalagem) um “direito de pernada” que só K., como forasteiro, discute.

K. ainda não logrou exercer a função para que foi contratado. De resto, o posto de agrimensor não existe sequer, e o seu contrato, como explica o alcaide, é fruto dum atraso de anos da resposta negativa à questão de saber se era preciso de todo um agrimensor. Tudo isto nos é estranhamente familiar.

O arbitrário não é pensado, a denegação de justiça não é pensada. Porque tudo funciona “demasiado bem” (se parasse era outra coisa), mas não no sentido que era preciso e para que a “máquina” foi criada. Ninguém foi tão longe na descrição do absurdo.

E que fim se poderia esperar para este romance? A morte, como no “Processo”, obra incompleta também ela? Um final dar-nos-ia a ilusão do sentido. É mais verdadeiro assim, precisamente, porque não faz sentido.

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